03 mar, 2025 - 09:47 • Lusa
Zoe Saldaña conquistou o Óscar de Melhor Atriz Secundária, pelo desempenho em "Emília Perez", garantindo a primeira estatueta ao filme mais nomeado desta 97.ª edição dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos.
Para esta categoria estam igualmente nomeadas Monica Barbaro, por "A Complete Unknown", Ariana Grande, por "Wicked", Felicity Jones, por "O Brutalista", e Isabella Rossellini, por "Conclave".
Zoe Saldaña, ovacionada pelos seus pares, lembrou a ancestralidade dominicana, no discurso de aceitação, e sua avó que chegou aos Estados Unidos como imigrante, em 1961.
"Sou uma filha orgulhosa de pais imigrantes", disse Saldaña, salientando que é a primeira atriz de origem dominicana a vencer um Óscar, e que não será a última.
"Anora" venceu o seu segundo Óscar da noite pela Melhor Montagem, ultrapassando os outros nomeados: "O Brutalista", "Conclave", "Emilia Pérez" e "Wicked".
"Wicked" também conquistou o seu segundo Óscar, pelo Design de Produção, vencendo sobre "O Brutalista", "Conclave", "Duna: Parte Dois" e "Nosferatu".
Zoe Saldaña, que esta noite venceu o Óscar de Melhor Atriz Secundária pelo papel de Rita no controverso filme "Emilia Pérez", disse nos bastidores dos prémios que a polémica doeu mas não se arrepende de nada.
"Este filme não é baseado na vida real. Se tivesse que fazê-lo outra vez, fazia-o outras mil vezes. É um filme muito importante, muito bonito, que se fez com muito amor", afirmou a atriz, na sala de entrevistas por onde passam os vencedores dos Óscares.
"Claro que a polémica doeu. Fazemos algo com o coração aberto e quando não é bem recebido ficamos confusos", disse a atriz, referindo-se às muitas críticas que o filme recebeu. "Eu decido seguir o meu coração sempre, porque sei que sou uma pessoa limpa".
"Emilia Pérez" causou controvérsia por ser um filme cuja ação se passa no México mas com poucos mexicanos no elenco ou na equipa, sendo o realizador Jacques Audiard francês. A forma como o tema da violência dos cartéis e contra as mulheres foi abordada também gerou críticas. E afirmações antigas da protagonista Karla Sofia Gascón, de caráter racista e xenófobo, ao ressurgir, quase fizeram a campanha para os Óscares implodir.
Questionada sobre esses factos por uma jornalista mexicana, Zoe Saldaña foi em simultâneo suave e firme. "Tenho muita pena que você e muitos outros mexicanos se tenham sentido ofendidos. Nunca foi a nossa intenção", começou.
"Não partilho da sua opinião. Para mim, o coração deste filme não é o México", contrapôs. "Não estávamos a fazer um filme sobre um país, estávamos a fazer um filme sobre mulheres", realçou, dizendo que tanto podiam ser russas ou dominicanas, negras ou de Gaza.
"Estas mulheres são universais, sofrem todos os dias para sobreviver à opressão sistémica, tentando encontrar as suas vozes mais autênticas", continuou. "Mantenho-me firme nisso".
Zoe Saldaña deixou outra coisa clara: "Não tenho nenhum arrependimento".
A atriz mostrou-se ainda muito grata e emocionada pela distinção da Academia, refletindo na jornada da sua carreira que a trouxe até este momento e como teve de parar de se sabotar a si própria.
"Podia falar do que não tenho e preciso de adquirir. Mas também posso dizer que se lixe e divertir-me a fazer isto".
O Óscar para Zoe Saldaña foi um de dois conquistados pelo filme da Netflix, que chegou à 97.ª edição dos Prémios da Academia como o mais nomeado do ano -- tinha 13 nomeações, um recorde para um filme que não é falado em inglês. A outra estatueta foi para Melhor Canção Original, "El Mal", interpretada por Zoe Saldaña e escrita por Clément Ducol, Camille e Jacques Audiard.
O Óscar de Melhor Canção Original foi entregue por Mick Jagger. "El Mal" superou "Never Too Late", de "Elton John: Never Too Late", "Like A Bird", de "Sing Sing", e "The Journey", de "As Mulheres do Batalhão 6888", além de "Mi Camino", também de "Emilia Pérez".
Antes de anunciar o vencedor, Mick Jagger brincou com Bob Dylan, afirmando que a produção gostaria de o ter tido a entregar o Óscar, mas que tal acabou por se revelar impossível, uma vez que "as melhores canções" dos filmes deste ano "estão todas" em "A Complete Unknown", uma revisitação dos primeiros anos de carreira do criador de "Like A Rolling Stone".
Jagger insistiu: "Dylan disse para que fosse alguém mais novo a entregar o Óscar. E eu sou mais novo".
A cerimónia dos Óscares, que decorreu esta noite em Los Angeles, tinha em "Emilia Pérez", do francês Jacques Audiard, o filme mais nomeado. É também alvo de polémica, nas últimas semanas, tendo caído em popularidade desde que foram reveladas mensagens antigas da atriz principal, Karla Sofía Gascón, de cariz racista e homofóbico, na rede social X.
"Emilia Pérez" somou 13 nomeações, um recorde para um filme em língua não inglesa, seguido de "O Brutalista", de Brady Corbet, e "Wicked", de Jon M. Chu, com dez nomeações, todos a competirem por Melhor Filme.
Para este Óscar estavam ainda nomeados "Anora" (que venceu), "A Complete Unknown", "Conclave", "Duna: Parte Dois", "Nickel Boys" e "Ainda Estou Aqui". Nesta categoria, apenas um filme é realizado por uma mulher: "A Substância", de Coralie Fargeat.
"Ainda estou aqui", do brasileiro Walter Salles, somava três nomeações: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz Principal, pela interpretação de Fernanda Torres, já premiada nos Globos de Ouro.
A 97.ª edição dos Prémios da Academia decorreu no Dolby Theatre, em Hollywood, com 52 filmes nomeados em 23 categorias.