02 mai, 2025 - 17:00 • Redação
Cientistas usaram tecido cerebral humano vivo para reproduzir a fase inicial da doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência. A descoberta científica representa um passo importante na procura pela cura.
Segundo o jornal The Guardian, pela primeira vez, uma equipa britânica conseguiu expor tecido cerebral saudável, de pacientes vivos, a uma forma tóxica de uma proteína associada ao Alzheimer, retirada de pessoas que morreram da doença. A experiência mostra como a proteína danifica as ligações entre células cerebrais em tempo real.
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Este avanço científico permite observar o desenvolvimento da demência em células do cérebro humano, facilitando o estudo de novos medicamentos e tratamentos para a doença.
Estima-se que o número de pessoas afetadas por demência triplique para 153 milhões em 2050. A necessidade de encontrar novas formas de estudar a doença e acelerar a procura por tratamentos eficazes torna-se assim uma prioridade de saúde pública.
Neste estudo, cientistas e neurocirurgiões juntaram-se em Edimburgo para mostrar como uma forma tóxica da proteína amiloide beta, associada ao Alzheimer, pode manifestar-se e destruir ligações vitais entre células cerebrais.
Como é que obtiveram as amostras de tecido cerebral saudável? Através de doentes com cancro, enquanto os mesmos realizavam cirurgias de rotina para a remoção de tumores no hospital escocês Royal Infirmary of Edinburgh. Os cientistas, presentes nas salas de operação, receberam os pequenos fragmentos de tecido cerebral que, de outra forma, seriam descartados.
Após serem recolhidas, as amostras foram devidamente armazenadas e transportadas para os laboratórios do Centre for Discovery Brain Sciences da Universidade de Edimburgo.
Para o tecido cerebral não morrer, foi cortado em pedaços com menos de um terço de milímetro de espessura e colocados em pequenas placas. Cada fragmento foi conservado num líquido nutritivo, dentro de um incubador a 37ºC, para simular a temperatura corporal.
“E começamos as experiências quase de imediato”, disse ao jornal britânico The Guardian a Dra. Claire Durrant, investigadora que liderou a experiência. Com a permissão dos pacientes, as amostras foram mantidas vivas até 15 dias.
Os investigadores extraíram a forma tóxica da proteína amiloide beta de pessoas que morreram com Alzheimer e puseram-na em contacto com o tecido cerebral humano saudável. “Estávamos a tentar recriar a doença de Alzheimer”, esclareceu a investigadora Claire Durrant.
Concluíram que, ao contrário do que acontece com a versão normal da proteína, o cérebro não tenta reparar os danos causados pela forma tóxica de amiloide beta.
Pequenas alterações nos níveis naturais de amiloide beta (aumento ou diminuição) foram suficientes para danificar as células cerebrais, o que sugere que o cérebro necessita de um nível muito equilibrado da proteína para funcionar corretamente, explicou a Dra. Durrant.
“Ao trabalharmos com a equipa de neurocirurgia da Universidade de Edimburgo, mostrámos que amostras de cérebro humano vivo podem ser usadas para explorar questões fundamentais relacionadas com a doença de Alzheimer”, afirmou. “Acreditamos que esta ferramenta pode ajudar a acelerar as descobertas (...). Ficamos um passo mais próximos de um mundo livre da dor causada pela demência”.
Com esta descoberta, os cientistas podem focar-se em desenvolver medicamentos com maior potencial para prevenir a perda de sinapses, as ligações que permitem a troca de informações entre células cerebrais e que são essenciais para o bom funcionamento do cérebro. O Alzheimer afeta as sinapses, o que leva ao declínio da memória e de outras capacidades cognitivas.
A investigação foi apoiada pela Race Against Dementia, uma organização solidária criada por Jackie Stuart após o diagnóstico de demência da sua mulher. A fundação James Dyson Foundation, que apoia projetos de investigação científica, doou ainda 1 milhão de libras à realização da experiência.