13 set, 2012
Portugal vive há muito tempo acima das suas possibilidades. O Estado gasta mais do que recebe. E embalados pelo exemplo ou até pelo incentivo do Estado muitas pessoas e muitas empresas habituaram-se a fazer o mesmo. Deixamo-nos envolver numa ilusão, para não dizer numa mentira. Por outras palavras, temos um défice de verdade na sociedade portuguesa.
Desenvolveu-se uma cultura individualista, desligada do bem comum. A quebra da natalidade, por exemplo, não nasceu com a crise. Pelo contrário: foi nos melhores anos da economia que muitos portugueses optaram por ter menos filhos. Inebriados pelo aumento do bem estar poucos quiseram pensar nas consequências.
Os resultados estão à vista. Menos filhos significa, por exemplo, menos alunos, menos escolas, menos emprego para professores; significa, a prazo, menos população activa, menos contribuições para a segurança social e menor capacidade do Estado para pagar reformas a quem toda a vida trabalhou.
Dito de outro modo: a crise actual é o resultado de uma cultura e de um certo modo de vida.
Medidas como aquelas que o governo anunciou podem resolver um aperto financeiro momentâneo, mas se não mudarmos hábitos e atitudes, rapidamente voltaremos ao mesmo.
Em todo o caso, o governo tem aqui uma especial responsabilidade. Deve tomar as medidas necessárias, mas com algumas condições: explicar aos portugueses com clareza e verdade, isto é, sem confusão nem distorção, as grandes decisões que os afectam; promover um consenso nacional e social que mobilize os cidadãos para a reabilitação do país; e procurar salvaguardar - não na retórica, mas nos actos - os mais pobres e os mais débeis.
Finalmente, a coragem de um governo não se mede apenas pelas medidas que toma. Para o Governo recuar, negociar e ceder é preciso coragem e uma enorme maturidade. E o mesmo se pede à oposição. Protestar é fácil e, seguramente, popular. Mas a cada crítica é necessário juntar uma proposta; mostrar uma alternativa; explicar uma diferença.
Na vida pública portuguesa sobra a propaganda; e falta a verdade. Verdade nas propostas, verdade nas críticas, verdade nas alternativas.
Propor e exigir - a todos - a verdade, talvez seja o melhor caminho para começar a mudar de vida. Porque sem mudar de vida não há esperança que resista à crise.
