Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​A democracia face à direita radical

22 mai, 2024 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os adeptos de regimes autoritários tendem para a violência. Daí que os democratas, cientes de que a democracia é o único regime que permite a convivência do pluralismo das opiniões, se empenhem em evitar recuos de civilização.

Na semana passada, realizou-se em Madrid uma convenção dos partidos da direita radical. Lá estavam André Ventura e o seu partido Chega. Também participou o presidente da Argentina, Javier Milei, que atacou a mulher do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, chamando-lhe "corrupta". O governo espanhol solicitou um pedido de desculpas às autoridades da Argentina. Mas estas escalaram a troca de insultos. O governo de Pedro Sánchez retirou sua embaixadora em Buenos Aires.

Refiro este facto porque ele ilustra a tendência da direita radical para a violência - para já apenas na modalidade do insulto. A violência é mesmo uma caraterística que os adeptos desta atitude política musculada fazem gala em exibir, criticando a democracia pela sua alegada “fraqueza”. Pois não permitem os políticos democráticos que os seus adversários se mantenham no espaço público, defendendo opiniões que deveriam ser banidas?

A democracia política é, de facto, um regime que se afasta dos instintos primários que levam ao aniquilamento dos inimigos. Nesse sentido, será a democracia representativa um regime não natural, contraintuitivo. Ao invés, a direita radical aproxima-se da lei da selva.

Por isso é a democracia tão frágil. Ela encontra-se hoje a recuar um pouco por toda a parte, perante o avanço da direita radical - avanço que, entre nós, significa um recuo face ao regime derrotado no 25 de abril. Mas não é novidade: entre a I e II guerras mundiais a democracia representativa parecia completamente ultrapassada, só que renasceu em força após o fim da II guerra mundial.

Para esse renascimento democrático muito contribuiu a democracia nos Estados Unidos, país que não foi contaminado pelos totalitarismos nazi-fascista e comunista. O drama, agora, é que a democracia nos EUA se mostra pouco resistente à influência de Trump.

Daí que os democratas, cientes de que a democracia é o único regime que permite a convivência do pluralismo das opiniões, se empenhem em evitar recuos de civilização.

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