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Seleção feminina do Canadá cancela greve após ameaças de ação legal da Federação

12 fev, 2023 - 19:30 • Inês Braga Sampaio

Jogadores das seleções feminina e masculina do Canadá revoltaram-se publicamente contra cortes orçamentais. Federação ameaçou com processos de "milhões de dólares".

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A seleção feminina do Canadá ia fazer greve contra os cortes orçamentais, no entanto, teve de desistir, após ameaças de ação legal por parte da Federação Canadiana de Futebol (Canada Soccer).

Os jogadores das seleções feminina e masculina do Canadá revoltaram-se publicamente contra a Canada Soccer, após anúncios de pesados cortes financeiros, numa altura em que o futebol atingiu um pico de popularidade naquele país e, supostamente, a Federação recebe mais dinheiro que nunca, devido ao sucesso recente das equipas nacionais. Os principais prejudicados eram as seleções jovens e feminina.

Em comunicado, a seleção feminina revelou que a Canada Soccer tinha informado que não havia dinheiro para organizar, em solo nacional, amigáveis de preparação para o Mundial, que se realiza em julho e agosto na Austrália e na Nova Zelândia: "Foi-nos dito, literalmente, que não conseguem financiar adequadamente a seleção feminina. Esperaram até agora, a menos de seis meses do Mundial, para nos dizer isso."

"Tivemos de cortar dias e até janelas inteiras de estágio, reduzir o número de jogadoras e 'staff' convidados para os estágios e limitar de forma significativa as atividades já de si limitadas das seleções jovens, ao mesmo tempo que continuamos a enfrentar uma incerteza imensa sobre compensação. (...) Estamos cansadas - cansadas de ter de lutar constantemente por tratamento justo e igual, e por um programa que nos dê a oportunidade de alcançar aquilo que sabemos que a nossa equipa é capaz de alcançar pelo Canadá", pode ler-se no comunicado.

A seleção feminina exigiu "mudança imediata" e que a Canada Soccer correspondesse à promessa de igualdade de género, através de financiamento "apropriado" à equipa. Para que as exigências surtissem efeito, anunciou greve para a altura da SheBelieves Cup, reputado troféu internacional de futebol feminino que se realiza em fevereiro.

Cloé Lacasse, internacional canadiana do Benfica, partilhou o comunicado da seleção no Twitter. "Demais já era demais há muito tempo", escreveu (não é possível fazer a tradução de forma literal).

A seleção masculina manifestou apoio à congénere feminina e questionou para onde tem ido o dinheiro angariado com as participações históricas de ambas as equipas em competições internacionais.

Os jogadores da seleção masculina exigiram que a Canada Soccer ceda às exigência das suas colegas e solicitaram ao ministro canadiano do Desporto que, caso isso não aconteça, "intervenha para remover" a atual direção e obrigue a eleições antecipadas na Federação.

Porém, a Canada Soccer emitiu um comunicado a declarar que a greve anunciada pela seleção feminina era ilegal e, em reunião, deixou uma ameaça: "Disseram-nos que, se não regressássemos ao trabalho e não nos comprometêssemos a [participar na SheBelieves Cup], não só tomariam ação legal para nos forçar a jogar, mas considerariam avançar com um pedido de indemnização de milhões de dólares em danos do Sindicato de Jogadores e de cada um dos membros atualmente em estágio."

"Considerando que ainda não recebemos qualquer compensação pelo nosso trabalho pela Federação em 2022, não podemos dar-nos ao luxo de arriscar que a Canada Soccer tome ação legal contra nós. Por isso, notificámos que regressaremos ao treino e que jogaremos na SheBelieves Cup. Continuamos a acreditar que os cortes orçamentais nos programas da seleção nacional são inaceitáveis e continuamos a acreditar que, a não ser que nos unamos e exijamos mais, nada irá mudar", pode ler-se.

A seleção feminina do Canadá ocupa a sexta posição do "ranking" FIFA e é campeã olímpica - conquistou a medalha de ouro em Tóquio 2020.

A capitã, a avançada Christine Sinclair, máxima goleadora da história de seleções femininas e masculinas - 190, contra os 118 de Cristiano Ronaldo - garantiu que a SheBelieves Cup "será disputada em protesto".

Janine Beckie e Quinn, dos atletas mais importantes da seleção, partilharam um excerto de uma conferência de imprensa recente da atual direção da Canada Soccer. Nessas declarações, o presidente da Federação, Nick Bontis, afirmou que queria assegurar-se de que "tudo o que fosse pago aos homens também seria pago às mulheres".

"Não há nada mais insultuoso do que falsas promessas", atira Beckie.

As seleções masculina e feminina negoceiam contratos de trabalho com a Canada Soccer desde há mais de um ano. O acordo anterior da equipa feminina expirou já em 2021. Em junho de 2022, a equipa masculina boicotou um particular devido ao conflito com a Federação.

A Canada Soccer sublinha, em comunicado no site oficial, que apresentou uma proposta equitativa às duas seleções e respetivos representantes "há vários meses" e que ainda espera por uma resposta.

"Equidade salarial para a nossa seleção feminina está no âmago das negociações com os jogadores, que ainda decorrem. A Canada Soccer não aceitará qualquer acordo sem essa garantia", lê-se.

A SheBelieves Cup começa na quinta-feira, nos Estados Unidos. O Canadá entra em campo na sexta-feira, às 00h00, frente às anfitriãs.

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