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"Laudato Si" inspira doutoramento na Católica. "Conhecimentos fragmentados hoje não servem"

21 mai, 2024 - 20:39 • Ângela Roque

A UCP apresentou esta terça-feira o novo doutoramento em Ecologia Integral. Envolve, ao todo, seis escolas e faculdades da Católica. As inscrições estão abertas até 30 de maio, mas admite-se a abertura de novas datas. Não há bolsas e as aulas arrancam a 12 de setembro.

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O novo doutoramento em Ecologia Integral, na Universidade Católica Portuguesa (UCP), foi inspirado na "Laudato Si". A encíclica do Papa Francisco, publicada há nove anos, lembra que a defesa da natureza não pode estar desligada do resto, porque tudo se interliga, e que “os problemas atuais requerem um olhar que tenha em conta todos os aspetos da crise mundial”.

O padre Alexandre Palma, diretor do Centro de Investigação em Teologia e Estudos da Religião da UCP, começou por lembrar que o tema da defesa do ambiente já tinha sido abordado por anteriores Papas (nomeadamente Paulo VI), mas a novidade do documento de Francisco é que abriu a “noção de ecologia e consciência ecológica”, que já não é só “ambientalismo e mera consciência verde”.

Para este responsável, a criação deste doutoramento na UCP é já uma resposta aos desafios do Papa, porque a mudança de paradigma que Francisco pede também implica as instituições de ensino, numa articulação de áreas e saberes. “Conhecimentos fragmentados hoje não servem. E se uma Universidade quer ser uma catedral de inteligência, não pode ceder a uma fragmentação que a degenera numa oficina de ignorância. Uma visão alargada da ecologia, suportada na verificação de que tudo está interligado, demanda, pois, uma integração de saberes”, afirmou durante a apresentação do programa.

Para Alexandre Palma, os desafios que o Papa deixa são para todos e para todas as áreas. “Para nós, teólogos, há o enorme desafio de descobrir a realidade como lugar teológico. Mas, para todos os colegas das outras disciplinas o desafio é exatamente igual, porque o que estudam também tem o horizonte do transcendente. E enquanto não chegarmos lá ficamos, ainda, aquém do espaço que somos chamados a atravessar”.

E acrescentou: “como teólogo não me perdoaria se aqui, hoje, não evidenciasse ainda mais que uma ecologia restrita apenas ao emanente – da sociologia, economia, estudos de cultura e comunicação, direito, gestão, biotecnologia ou psicologia –, obviamente não seria tão aberta e tão larga quanto ela pode e deve ser, nem tão integral quanto a realidade, de facto, já é. Só precisamos de o reconhecer”.

O doutoramento envolve, ao todo, seis escolas e faculdades da Universidade Católica. Tudo foi preparado ao longo dos últimos dois anos por grupos de trabalho coordenados por Margarida Mano, que nesta sessão na UCP agradeceu o empenho de todos no processo.

“O doutoramento é na área das ciências sociais, está alojado na Faculdade de Ciências Humanas, mas é de várias escolas, e todas estiveram envolvidas desde o primeiro momento nos grupos de trabalho, com pessoas que acreditaram: a Faculdade de Ciências Humanas, a Escola das Artes, a Escola Superior de Biotecnologia, a Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Teologia. São seis faculdades juntas, num Doutoramento que criaram e pensaram, e não posso deixar de agradecer às pessoas que participaram e acreditaram nisso”.

O novo doutoramento, com a duração de três anos, arranca a 12 de setembro de 2024. As inscrições estão abertas até 30 de maio, mas o coordenador do plano de estudos e vice-reitor para a Investigação e Inovação da UCP, Peter Hanenberg, admite que podem vir a abrir novas datas. “Somos capazes de abrir mais para a frente outro momento para inscrições. Quem perder a oportunidade de se inscrever até 30 de maio pode contra com esta segunda fase”, avançou.

Nesta fase de arranque o doutoramento não será ministrado em inglês, mas a procura por alunos internacionais poderá obrigar a isso, mais à frente. De momento também não está prevista a atribuição de bolsas de estudo. “Este ano não temos bolsas, porque as que podemos oferecer – através da Fundação Amélia de Mello, por exemplo – não estão disponíveis este ano para este curso, infelizmente. Tenho esperança no futuro poder mobilizar outras bolsas, através de programas de cotutela, com outras universidades com que colaboramos”, afirma Peter Hanenberg.

O doutoramento tem um programa interdisciplinar, e o objetivo é fornecer respostas éticas adequadas aos desafios globais. Entre as matérias a abordar estão a cultura e sustentabilidade ambiental, a justiça intergeracional, a economia verde, o combate à pobreza sistémica, e o crescimento económico e a sustentabilidade.

No primeiro ano do doutoramento, para além de um Observatório de Ecologia Integral, estão previstos três seminários: Cidadania Ecológica, Ecologia Ambiental e Espiritualidade Ecológica. No segundo ano haverá um Seminário de Investigação, e o terceiro será dedicado à Dissertação de Doutoramento.

Este plano de estudos destina-se a “quem pretenda ser um motor de mudança na sociedade”, ou “trabalhar em organizações, públicas ou privadas”, “compreenda que os paradigmas atuais precisam de renovação face aos desafios ambientais” e queira ajudar a construir novas “políticas para as sociedades do futuro”, esclarece a UCP.

A data para apresentação do programa deste novo doutoramento não foi escolhida ao acaso – a Igreja assinala, até domingo, a Semana "Laudato Si", que celebra os nove anos da publicação da encíclica do Papa Francisco.

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