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PCP em Sesimbra

Entre os pescadores de Sesimbra, não faltam queixas sobre Bruxelas

21 mai, 2024 - 14:31 • Filipa Ribeiro

Na doca de Sesimbra há pescadores reformados que procuram peixe para compensar as reformas baixas e ainda insatisfação com as políticas de Bruxelas.

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Reportagem pescadores de Sesimbra
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Às nove da manhã na doca de Sesimbra é descarregado um barco que traz várias caixas de carapau. Em cima da empilhadora para carregar as caixas está Delfim Moleta, um pescador reformado que se viu obrigado a voltar à doca para compensar a reforma que recebe. “Somos um país com uma área geográfica, uma costa, tão grande, temos mar, importamos mais de 60% de peixe e não nos deixam pescar, infelizmente”, lamenta, quando se cruza com o candidato às europeias do PCP, João Oliveira.

Delfim Moleta realça que o problema, atualmente, é a diferença entre o preço do peixe quando sai da lota e o valor a que ele é comercializado nas superfícies. “Era bom que quando uma sardinha vai para cima do pão, se lembrassem que houve alguém que passou a noite toda no mar para a apanhar. Se for preciso paga-se três euros por essa sardinha no pão, valor que dava para pagar três quilos de sardinha aqui”, exemplificou, para dar conta da diferença de preços que está a ser praticada.

Mais adiante, na escolha do peixe, está Júlio Lourenço, de 68 anos, também ele pescador reformado, obrigado a voltar ao trabalho. À Renascença, explica o porquê de ter regressado à doca: “A minha reforma não dá e tenho de andar no mar para comer, no mês passado ganhamos 200 euros, isto num mês”, lamentou. Júlio Lourenço, continuou a manter o foco na escolha do peixe, apesar de estar a trabalhar desde as 16h30 do dia anterior sem uma pausa para ir a casa descansar.

Durante a caminhada na doca de pesca de Sesimbra é percetível que a maioria dos pescadores tem idade para estar na reforma, ou perto disso, apesar de o cansaço poder ser um filtro que lhes dá mais idade.

Com uma tatuagem no braço e pele menos enrugada destaca-se Carlos Ferraz. Tem 27 anos e diz ser o mais jovem trabalhador da doca. “Já estou nesta vida desde os meus 16 anos, vim com o meu pai”, começa por contar à Renascença enquanto arranja as redes de pesca. Sentado ao sol, diz que o trabalho não é assim tão mau e que sempre gostou de acompanhar o pai.

“Aqui em terra é mais fácil e ganho aqui o mesmo que ganhava no mar”, conta, acrescentando que é da terra e que a classe está a ficar envelhecida porque os jovens não escolhem ser pescador com receio da vida pesada. “Na altura do mar trabalhamos cerca de 17 a 18 horas por dia e em terra é mais calmo, fazemos 8 horas por dia”, explica.

Os trabalhos na doca decorrem enquanto o candidato ao Parlamento Europeu pelo PCP João Oliveira segue uma visita junto a responsáveis da Docapesca que apresentam os novos espaços e um modelo de leilão do pescado, que decorre também online, tudo para aumentar a procura em busca de uma eventual valorização do preço do peixe que se vende em Sesimbra. Sardinha, cavala, e peixe de espada preto são os peixes com mais saída.

Antes de terminar a visita, João Oliveira conversou com Luís Pinhal, um pescador crítico às decisões que chegam ao país de Bruxelas, como a limitação das áreas e dos períodos de pesca. “A gente mesmo que tenha qualquer decisão vai a Bruxelas para se dar o amén e volta-se para aqui e vai da interpretação de cada um”, diz o pescador.

PCP defende unanimidade na votação na Europa para que Alemanha não decida por Portugal

Crítico a medidas que resultam de Bruxelas, o candidato pelo PCP ao Parlamento Europeu defende, por exemplo, que a votação sobre questões que afetam Portugal, como a pesca, não devem ser tomadas dando mais valor aos países com maior população, como é o caso da Alemanha. João Oliveira não concorda com o modelo de votação utilizado nas instituições europeias em que estes países têm a última palavra.

“Portugal tem a terceira maior zona económica exclusiva da União Europeia, a Alemanha tem uma zona económica exclusiva pequeníssima e, em função do peso diferenciado destes países, a Alemanha tem um poder de decisão sete vezes superior ao de Portugal sobre a Política Comum de Pescas. Isto faz sentido? Não faz. Nós continuamo-nos a bater pela regra de unanimidade nas decisões a nível do Conselho Europeu”, defendeu o comunista.

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