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Funeral do Presidente do Irão com milhares de iranianos, mas celebrações contidas

21 mai, 2024 - 16:26 • João Pedro Quesado com Reuters

Embora a televisão estatal tenha falado numa grande multidão, alguns especialistas apontam um forte contraste no luto em comparação com as comemorações pelas mortes de outras figuras importantes nos 45 anos de história da República Islâmica.

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Foto: Reuters
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Foto: Stringer/EPA
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Foto: Iranian Presidency Handout/EPA
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Milhares de iranianos compareceram esta terça-feira para homenagear o Presidente Ebrahim Raisi na cidade de Tabriz, depois da morte num acidente de helicóptero perto da fronteira com o Azerbaijão no fim de semana, onde também morreu o ministro dos Negócios Estrangeiros e outras sete pessoas.
A televisão estatal transmitiu imagens ao vivo de pessoas em luto, muitas delas vestidas de preto, batendo no peito enquanto um camião coberto de flores brancas passava lentamente no meio da multidão, carregando os caixões embrulhados na bandeira nacional.

“Todos vieram despedir-se do presidente martirizado e dos seus companheiros, independentemente da sua fação, etnia ou língua”, disse o deputado Masoud Pezeshkian à Reuters.

No entanto, embora a televisão estatal tenha dito que uma grande multidão apareceu em Tabriz, alguns especialistas apontam um forte contraste no luto público em comparação com as comemorações pelas mortes de outras figuras importantes nos 45 anos de história da República Islâmica.

Embora o Irão tenha proclamado cinco dias de luto por Raisi, houve pouca da retórica emotiva que acompanhou a morte de Qasem Soleimani, comandante sénior da elite da Guarda Revolucionária morto por um míssil dos Estados Unidos da América no Iraque, em 2020, e cujo funeral atraiu enormes multidões de pessoas em luto, chorando de tristeza e raiva.

O corpo de Raisi foi transportado de Tabriz, a cidade mais próxima do remoto local do acidente, para o aeroporto de Teerão, antes de seguir para a cidade muçulmana xiita sagrada de Qom. O corpo de Raisi vai regressar à capital para ficar na Grande Mesquita Mosalla, antes de ser transportado para a cidade natal, Mashahd, no leste do Irão, e ser enterrado na quinta-feira.
Os enlutados carregavam cartazes com imagens de Raisi, do ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amirabdollahian, do líder das orações de sexta-feira na cidade de Tabriz e de outras autoridades que também morreram no acidente.

Regime do Irão em crise profunda

A morte do Presidente iraniano ocorreu num momento de aprofundamento da crise entre a liderança clerical e a sociedade em geral, sobre questões que vão desde o reforço dos controlos sociais e políticos até às dificuldades económicas.

Para restaurar a legitimidade democrática, prejudicada após uma baixa participação, de cerca de 41%, nas eleições parlamentares de março, os governantes do Irão devem despertar o entusiasmo público para garantir uma elevada participação nas eleições presidenciais antecipadas, que terão lugar a 28 de junho.
Mas os iranianos ainda guardam memórias dolorosas da forma como lidaram com a agitação nacional desencadeada pela morte de uma jovem iraniana-curda em 2022, que foi reprimida por uma violenta reação estatal que envolveu detenções em massa e até execuções.

A indignação pública generalizada, face à deterioração dos padrões de vida e à corrupção generalizada, também poderá manter muitos iranianos em casa.

Alguns analistas dizem que milhões de pessoas perderam a esperança que os clérigos governantes do Irão possam resolver uma crise económica fomentada por uma combinação de sanções dos EUA, má gestão e corrupção.
Raisi promulgou as políticas duras do mentor, o líder supremo aiatolá Ali Khamenei, com o objetivo de consolidar o poder clerical, reprimir os opositores e adoptar uma linha dura em questões de política externa, como as conversações nucleares com Washington para reavivar o pacto nuclear do Irão de 2015.
Qualquer candidato que entre nas eleições deve primeiro ser examinado pelo Conselho Guardião, um órgão de fiscalização radical que muitas vezes desqualificou até mesmo autoridades conservadoras e moderadas proeminentes, o que significa que é pouco provável que a direção geral da política mude.
Embora amplamente visto como um dos principais candidatos para substituir o líder supremo de 85 anos quando ele morrer, duas fontes disseram que o nome de Raisi foi retirado de uma lista de potenciais sucessores há cerca de seis meses devido à sua queda na popularidade.
A morte de Raisi introduziu “grande incerteza” na sucessão, disseram analistas, provocando rivalidades no campo da linha dura sobre quem sucederá Khamenei como autoridade máxima do país.
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