Portalegre

António Belém, 62 anos, vendedor de automóveis, desempregado

Com apenas 102 mil habitantes, Portalegre é o distrito menos povoado de Portugal continental. Os líderes dos partidos que concorrem às legislativas deste ano nem fizeram a viagem até ao círculo eleitoral que elege menos deputados, apenas dois. A população queixa-se de muitas promessas políticas por cumprir, como é o caso da Barragem do Pisão. Proposta pela primeira vez há mais de 50 anos, a barragem que iria servir o Alto Alentejo já foi anunciada por três primeiros-ministros: Mário Soares, António Guterres e Durão Barroso. Este ano, o projeto voltou a ganhar vida com a notícia de um investimento de 168 milhões de euros, mas a população está descrente.

Se não é fácil chegar a Portalegre, com acesso apenas por estradas nacionais e itinerários principais, sair parece não ser assim tão difícil. A falta de oferta de emprego qualificado e a pouca oferta cultural serão duas das principais razões que empurram os jovens para fora do distrito. António Belém está desempregado há cinco anos e pondera a hipótese de se reformar com um valor muito abaixo daquele que tinha imaginado. Tem dois filhos: o mais velho saiu para trabalhar em Lisboa, a mais nova ainda vive em Portalegre, mas está, como o pai, desempregada.

Todos com alguma formação acabam por abandonar Portalegre

Há muitas pessoas a deixarem o distrito em busca de emprego ou à procura de melhores condições de vida e de carreira. Todos os que têm alguma formação acabam por abandonar Portalegre, porque toda a indústria fechou ao longo dos últimos 20 anos. O meu filho mais velho está a trabalhar em Lisboa e a mais nova ainda vive cá, fez o curso de assistente social, mas está desempregada. Os mais jovens só arranjam empregos ligados ao atendimento ao público, no Pingo Doce ou no Continente, que são trabalhos pouco interessantes para se construir uma carreira. Um jovem que tenha formação tem de sair de Portalegre para crescer profissionalmente.

Neste momento sentimos mais proximidade de Espanha

Há um grande desinteresse pelo Alentejo por parte do Governo. Basta olhar para os percursos das campanhas eleitorais pelo país e percebe-se isso. Deviam ter uma maior presença no terreno e tentar atrair valor e interesse para a região. Neste momento, sentimos mais proximidade de Espanha do que de Lisboa. Não existe autoestrada até Portalegre e demora-se mais de duas horas e meia para fazer 200 quilómetros. Em Espanha, há muitas autoestradas gratuitas.

Estão mais preocupados com competições entre partidos

Vejo a campanha política na televisão, mas atacam-se uns aos outros e parece que não se preocupam com aquilo de que as populações e as terras precisam. Na nossa região, era necessário que o acesso a cuidados de saúde tivesse muito mais investimento, que a justiça funcionasse bem e que houvesse um plano de emprego para os mais jovens, que não os obrigasse a emigrar para construírem um futuro ambicioso. Estes temas precisam de ser discutidos com seriedade e não com competições entre partidos.

Fala-se novamente na Barragem do Pisão, mas as pessoas já não acreditam

Voto sempre, mas nos últimos anos desinteressei-me de acompanhar as propostas dos partidos. No caso do nosso distrito, há demasiadas promessas que ficaram por cumprir. Agora ouve-se falar novamente no projeto da Barragem do Pisão, um projeto do qual já se fala há 50 anos e que teria contribuído muito para a nossa região, como o Alqueva contribuiu para Évora e Beja. Curiosamente, em junho deste ano voltou a falar-se do projeto, mas as pessoas estão desiludidas e já não acreditam nas promessas políticas.