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"É preciso fazer escolhas difíceis". Guerra na Ucrânia aquece debate para as europeias

20 mai, 2024 - 23:50 • Ricardo Vieira

CDU, IL, PAN e Chega também trocaram argumentos sobre indústria de Defesa, como aumentar a competitividade da Europa em relação a EUA e China, regras orçamentais e liberdade de expressão.

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A perda de competitividade da economia europeia, o combate à desinformação e linhas vermelhas da liberdade de expressão, a guerra na Ucrânia e a aposta na indústria de Defesa foram temas em destaque no debate desta segunda-feira para as eleições europeias, que juntou na SIC João Oliveira (CDU), Pedro Fidalgo Marques (PAN), António Tânger Corrêa (Chega) e João Cotrim Figueiredo (Iniciativa Liberal).

A guerra na Ucrânia e a resposta da União Europeia foi um dos assuntos quentes do frente a frente televisivo rumo às eleições de 9 de junho.

O comunista João Oliveira, que se envolveu numa troca de argumentos com os outros candidatos, mostrou-se contra mais investimento na indústria de Defesa. "Não nos parece que seja esse o caminho. O mundo já gasta dinheiro a mais em armas e devia gastar mais dinheiro em paz", declarou.

João Oliveira considera que a "corrida ao armamento não se faz com um corredor só" e só vai "acentuar os perigos da guerra". "As nossas Forças Armadas devem ter capacidades para cumprir a missão que a Constituição lhe atribui, que é a garantia da independência da soberania nacional, não é para participar em guerras de agressão nem para os jovens irem morrer nas guerras da NATO", argumenta o candidato da CDU, numa crítica às declarações do almirante Gouveia e Melo.

João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, perguntou como é que os ucranianos, então, devem resistir à invasão russa: "Se fosses ucraniano o que é que fazias? Ias para a rua com uma bandeira?"

João Oliveira, da CDU, considera que "os ucranianos estão a ser usados como carne para canhão" e diz que acredita "tanto nos planos da Rússia para controlar a Europa como nas armas de destruição massiva do Iraque. É um discurso para alimentar a guerra".

João Cotrim Figueiredo diz que "enquanto houver 'Putins' e pessoas que os defendam alguém tem que lhes fazer frente e estar armado". "Se queres a paz prepara-te para a guerra. Isso é uma visão lírica e irresponsável", atirou.

"Os votos e deputados da CDU servirão para combater o caminho de militarização da União Europeia e servirão para garantir a defesa da paz na Ucrânia, na Palestina e onde haja guerra", garante João Oliveira.

Pedro Fidalgo Marques, do PAN, considera que, apesar de o partido ser contra a violência e os conflitos armados, se "temos uma guerra na Europa, temos de estar preparados para ela" através de uma política europeia de Defesa. O candidato a eurodeputado é apologista de uma força de reação rápida multinacional, mas opõe-se à criação de um Exército Europeu e ao regresso do serviço militar obrigatório, "como defende o Chega".

A Ucrânia também sofre com um problema ambiental de contaminação dos solos devido à guerra e tem de reconstruir saneamento, sublinha Pedro Fidalgo Marques, que defende uma contribuição extraordinária sobre lucros excessivos da Defesa para apoiar Kiev em matéria humanitária e ambiental.

João Oliveira, da CDU, criticou a posição do PAN: “O papel dos ecologistas é pôr cravos nas espingardas para acabar com a guerra”, disse. “Por isso é que o PCP votou contra o Tratado de Paris”, respondeu Pedro Fidalgo Marques. “O PCP absteve-se. Não defendemos negócio com o ambiente”, atirou João Oliveira.

Cotrim Figueiredo diz que é preciso "fazer escolhas difíceis", porque enquanto "houver tiranos e tiranetes, imperialistas sanguinários, disponíveis a sacrificar o seu povo e o dos outros para missões pessoais, o mundo democrático e livre tem obrigação de se defender, sob pena de entregar... não sei se é isso que o PCP quer. Hoje é a Ucrânia, amanhã são os países Bálticos, não sabemos onde isto pára”, alertou.

“Corremos aos armamentos e lançamos o mundo numa catástrofe nuclear... É essa a posição da Iniciativa Liberal?”, questiona João Oliveira.

Linhas vermelhas à liberdade de expressão?

Chega, IL e CDU rejeitaram a imposição de limites à liberdade de expressão, divergindo nas soluções para combater a desinformação, e o PAN defendeu a necessidade de uma “linha vermelha” em relação ao discurso de ódio, "porque o discurso de ódio mata”.

Pedro Fidalgo Marques defende o investimento em “inovação e tecnologia”, incluindo o recurso a inteligência artificial, para “descobrir, acompanhar e travar toda esta desinformação, muita dela criada pela extrema-direita”.

O cabeça de lista do Chega defendeu que “liberdade de expressão não pode ter limites, não há cá linhas, ou há ou não há”.

António Tânger Corrêa queixou-se de que o discurso do Chega é encarado como “mau, tem de ser atacado, ostracizado”, criticou quem queira pôr linhas vermelhas e considerou que esta atitude constitui “um discurso de ódio”.

Apontando que “as maiorias não podem ser postas em causa pelas minorias”, o candidato afirmou que as “minorias estão a tomar conta do discurso político e da narrativa social” com as “agendas ‘woke’ e outro tipo de radicalismos que são nocivos para evolução das democracias”.

Pela IL, João Cotrim de Figueiredo alertou que se pode “cair no risco de, a propósito do combate à desinformação, limitar a expressão das pessoas”.

O candidato liberal considerou que a solução passa por “apostar muito mais fortemente no discurso aberto sobre o que é informação que circula, no ‘fact checking’ [verificação de factos], que tem tido um papel crucial em desmascarar desinformação e na tecnologia”.

O cabeça de lista da CDU defendeu que o combate à desinformação e às notícias falsas passa pelo “aprofundamento da democracia” e capacitar os cidadãos “para serem pessoas de corpo inteiro e críticos, capazes de refletir sobre o mundo que têm à volta, e rejeitou “a censura, a limitação de direitos individuais e direitos sociais”.

“Mesmo a solução do ‘fact checking’ não resolve grande coisa, é uma secretaria de Estado da verdade”, criticou João Oliveira.

Mais integração na UE? "A Europa está a ficar para trás"

João Cotrim Figueiredo defende mais integração europeia para recuperar o terreno perdido nos últimos anos para os Estados Unidos e para a China.

"A Europa está a ficar para trás e as pessoas não têm noção deste atraso. Há cerca de 15 anos, a economia da UE era 15% superior à americana, em termos de PIB global. Passados 15 anos, é 25% mais pequena. Estamos a falar numa diferença de 40%. Tirámos os olhos da bola: deixámos de ter a paz assegurada, deixámos de ter as liberdades suficientemente defendidas - veja a facilidade com que elas foram cedidas durante a pandemia - e deixámos de ser prósperos. Basta olhar para o passado para perceber que a Europa cresceu nos momentos em que mais se integrou", defende o candidato da IL.

João Cotrim Figueiredo diz que é preciso concluir o Mercado Único de Bens e Serviços, mas também o mercado único bancário, de energia, de telecomunicações e de conhecimento. "Não é só um credo liberal: esta facilidade de circular pessoas e ideias e capitais pode ajudar a Europa a crescer novamente", afirma.

O candidato do Chega considera que transferir mais competências para Bruxelas não é o caminho para ajudar a economia europeia a crescer. “Não. Defendemos maior integração e entendimento entre os Estados, mas não entendimentos forçados”, sublinha.

Tânger Corrêa considera que a Europa foi "naife" e não percebeu que a deslocalização de empresas europeias para outros países, para reduzir custos, também iria ter como consequência a transferência de tecnologia.

Pacto de... "austeridade"

Pela CDU, João Oliveira saiu em defesa de um programa de apoio ao setor produtivo e crítica a desindustrialização de Portugal nas últimas décadas, que acabou por beneficiar outros países europeus.

É preciso criar condições para que cada país desenvolva as suas indústrias no bloco europeu, diz João Oliveira, que apoia a reindustrialização do país: "precisamos de produzir medicamentos como comboios".

Questionado se a dispersão industrial por vários países podem ser prejudicial para competir com EUA e China, o candidato da CDU lança o trunfo da coesão entre os Estados-membros. “Lá se vai a concorrência liberal a vida com a criação dos grandes campeões europeus para ganhar escala. Há prejuízo para a coesão dos pequenos países”, argumenta.

João Oliveira considera, também, que o pacto de estabilidade "está transformado num pacto de austeridade" e "pouco se distingue dos tempos da troika".

Pedro Fidalgo Marques, do PAN, defende a importância da aposta na transição verde e nas energia renováveis, em detrimento da continuação dos apoios aos combustíveis fósseis, na ordem dos 300 mil milhões de euros, por ano.

O candidato do PAN também acusou o Chega de querer integrar um grupo no Parlamento Europeu que é contrário aos valores da UE. "O Chega na sua política do tratado das nações quer pôr em causa o estilo de vida dos portugueses. O Chega vai para esta força da Identidade e Democracia, de extrema-direita, que quer destruir o projeto europeu", disse Pedro Fidalgo Marques.

Tânger Corrêa nega ser um anti-europeísta, recorda que trabalhou para a UE no Kosovo e assegura que o Chega não irá apoiar no Parlamento Europeu iniciativas pró-Rússia.

Pacto de estabilidade está transformado num pacto de austeridade. pouco se distingue dos tempos da troika.

TANGER CORREIA

somos contra reforço das normas orçamentais completamente controladas pela Comissão, Comissão tem demasiado poder. Somos favoráveis a um menor controlo do Parlamento pela Comissão.

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