A luta contra a diabetes é, acima de tudo, um investimento na motivação. A ideia é defendida pelo director clínico da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, João Filipe Raposo, em entrevista à
Renascença.
“Temos de trabalhar a motivação das pessoas para mudar comportamentos” e isso “é muito mais do que dar informação às pessoas”, defende.
Que todos devemos comer de maneira equilibrada e fazer exercício físico é sabido, mas as pessoas não mudam só porque sabem que o devem fazer.
“Se chegam exaustas e tarde a casa e lhes pedimos que façam uma caminhada de 30 minutos, temos a noção de que teremos muito pouco sucesso nesse pedido”, sustenta o especialista.
É necessário o envolvimento de toda a sociedade. A mudança é grande e implica mexer nos padrões de trabalho, nos recursos das colectividades e até nos transportes públicos. Isto, sem esquecer o urbanismo, as escolas e os centros de saúde.
“Precisamos de ter um bom planeamento urbanístico, de maneira a que as nossas cidades se tornem agradáveis para, por exemplo, andar a pé. Ou que tenha uma boa rede de transportes públicos e articulados, porque também faz com que as pessoas caminhem mais”, exemplifica João Filipe Raposo.
A diabetes de tipo 2 tem crescido muito. Ela deriva do excesso de peso, de hábitos alimentares menos saudáveis e do envelhecimento. A actividade física desempenha um importante papel na prevenção e controlo da doença.
Com a diabetes, os níveis de açúcar no sangue aumentam. O exercício físico ajuda a baixá-los porque os músculos são os grandes consumidores de glucose.
“A actividade física tem as vantagens de ajudar na prevenção da diabetes, ou no seu controlo, e no bem-estar e nós queremos que as pessoas se sintam bem”, destaca o responsável clínico.
“Procuramos que as pessoas gastem o que comem. Se estamos numa sociedade com mais fácil acesso à comida e às mais calóricas – quer porque têm elevados níveis de gordura, muitas vezes escondida, quer porque tem doses elevadas de açúcar – temos de gastar essas calorias”, sustenta ainda.
O Observatório Nacional da Diabetes
divulgou esta terça-feira o seu último relatório, segundo o qual morreram 13 pessoas por dia em 2012 devido à doença.
“Temos de facilitar e encontrar ferramentas na nossa sociedade para que as pessoas tenham tempo [para mudar], o que significa também disponibilidade mental para o fazer”, remata João Filipe Raposo.