No lugar onde um dia esteve a piscina municipal do Campo Grande, nasceu um novo espaço desportivo – o Go Fit Campo Grande. Um “megaginásio” que tem chamado à atenção dos moradores com preços atractivos, mas que está “prestes a abrir” há mais de sete meses.

O impasse tem motivado fortes críticas daqueles que já se inscreveram (pagando adiantadamente mensalidades e, nalguns casos, anuidades) e estão à espera que o ginásio abra portas desde Setembro de 2016.

A ex-deputada do Bloco de Esquerda Joana Amaral Dias juntou-se ao coro de críticas na última semana, no Facebook. Diz ter pago mais de 400 euros para frequentar um ginásio que tem obrigação de fazer serviço público, uma vez que está num terreno municipal, e que constantemente se descarta de culpas, dizendo aos sócios que está a uma “licença” de abrir.

Em entrevista à Renascença, o vereador do Desporto da Câmara de Lisboa (CML) lamenta que a autarquia esteja a ser usada como “bode expiatório” pela direcção do ginásio, para explicar a demora na abertura. Segundo Jorge Máximo, o processo está na fase final, mas o equipamento ainda não está a funcionar devido ao “não cumprimento total das condições exigidas no processo de licenciamento do complexo”.

Foram realizadas vistorias no edifício na última semana e está a ser elaborado um relatório, diz. A licença, "provavelmente, está para breve”, revela.

A Renascença tentou contactar repetidamente a direcção do Go Fit, que nunca respondeu às solicitações de entrevistas.

O contrato com a Câmara de Lisboa

A história da requalificação das piscinas do Campo Grande, encerradas em 2006 devido ao avançado estado de degradação, começa em 2011, quando a Câmara de Lisboa anunciou a sua concessão, depois de concurso público internacional, à Ingesport.

Em troca da cedência do espaço por 40 anos, a empresa acordou pagar as obras de reconversão, no valor de 8,5 milhões de euros, e transferir 3% dos lucros anuais para a CML.

A empresa espanhola ficou ainda com a concessão das piscinas dos Olivais, onde abriu o Go Fit Olivais, em Fevereiro de 2015.

A campanha de angariação de sócios

Cerca de um ano depois do lançamento da primeira pedra, no Verão de 2016, o futuro ginásio já exibia um cartaz que anunciava que abriria portas em Setembro, segundo conta à Renascença Joana Amaral Dias, moradora em Alvalade.

“Várias pessoas da freguesia, enquanto decorria a obra, foram-se inscrevendo no ginásio com a expectativa de que abriria em Setembro”, conta a ex-deputada.

Em Outubro de 2016, também Joana Amaral Dias decidiu inscrever a filha, de seis meses, naquele ginásio. Na inscrição, escolheu pagar a anuidade completa, já que a empresa oferecia um bom desconto se escolhesse esta modalidade. Por “política da empresa”, não conseguiu inscrever apenas a filha, já que o ginásio obriga a que os pais das crianças estejam também inscritos. Nesse dia, pagou 415 euros.

A história de Ricardo Ferreira, assistente pessoal com 40 anos, é semelhante: inscreveu-se em Novembro de 2016, com a promessa de que poderia começar os treinos em Janeiro. Desistiu do ginásio que frequentava antes porque as condições que o Go Fit oferecia eram superiores. Na inscrição, escolheu a modalidade de casal: 55,80 euros por mês, para duas pessoas.

As condições eram vantajosas: se aceitasse pagar a anuidade completa, o ginásio oferecia duas mensalidades. Assim, Ricardo aceitou pagar 558 euros logo na inscrição.

“Falta de comunicação e de respeito”

Hoje, cerca de sete meses depois da primeira data de abertura anunciada, os sócios continuam à espera do início dos treinos.

“O que chateia mais”, desabafa Ricardo Ferreira, não é o atraso na abertura, mas “a falta de comunicação e de respeito para com os clientes”. As desculpas, diz, vão variando. Com tantos meses de espera, “já engordei e saí de forma”, brinca.

Joana Amaral Dias sentiu o descontentamento no bairro onde vive. “Muitas pessoas inscreveram-se naquele ginásio, houve pessoas idosas a deixar ali dinheiro”, conta. “O ginásio continua a mandar e-mails de promoções e propaganda todas as semanas, mas nunca comunicou que a obra estava atrasada, nunca me pediu desculpas ou fez qualquer diligência para compensar os clientes”.

Sofia Marieiro, que também se inscreveu no Go Fit em 2016, considera que a actuação dos responsáveis do ginásio é “péssima para a imagem da marca” e é uma “demonstração de falta de consideração pelas pessoas que se inscreveram”. Sofia diz ter tentado diversas vezes obter informações junto da empresa, mas encontrou sempre entraves. “Não atendem telefones, não respondem a e-mails e os que enviam são extraordinariamente vagos”.

O luso-brasileiro Marcelo Frezzatti também se inscreveu no Go Fit em Novembro do ano passado. Descontente com o atraso na abertura, em Março decidiu cancelar a matrícula e solicitou a devolução do dinheiro. Quarenta e cinco dias depois, os 40 euros que pagou voltaram à sua conta. Mas, para conseguir reaver o dinheiro, o jovem teve que contactar directamente a Ingesport, em Espanha.

O vereador Jorge Máximo lamenta que haja pessoas a sentir-se enganadas, esperando "que não se sintam enganadas pelo município de Lisboa”.

O responsável político admite que a Ingesport tivesse expectativas de abrir mais cedo, mas “era preciso que tudo estivesse concluído” para isso ser possível, explica. “Também eu gostaria que já estivesse aberto porque o ginásio irá suprir uma necessidade de oferta desportiva na zona."