12 abr, 2025 - 22:39 • Marisa Gonçalves
“Sem justiça não há paz”, “hoje e sempre Odair presente”, “racistas não passarão”, foram alguma das palavas de ordem que se ouviram, na tarde deste sábado, numa marcha entre a Cova da Moura e o Bairro do Zambujal, na Amadora.
Cerca de uma centena de pessoas participaram na iniciativa do Movimento Vida Justa.
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De megafone em punho, Wilson Oliveira, um dos elementos do movimento que colaborou na organização, fala numa luta que não pode cair no esquecimento.
“Se não fosse ele [Odair Moniz] e fosse algum dos aqui presentes, seria connosco. Então, essa dor é nossa. Ele não é o primeiro, nem o segundo, nem é o terceiro a quem esses tipos de situações têm acontecido. Isso tem de acabar. Demore o tempo que demorar, vamos estar aqui desde que seja feita a justiça. O tempo não será um problema”, afirma à Renascença.
Ao lado, Carla Sanches, uma jovem de 26 anos que decidiu juntar a sua voz à manifestação, diz acreditar que subsistem razões de protesto.
“O polícia que matou Odair deixou uma mulher viúva, um jovem e um bebé órfão. Eu ponho-me na situação. E se fosse um meu filho a ficar órfão de pai? Está em questão a forma como a polícia costumam atuar em bairros como estes”, declara.
A marcha deste sábado serviu também para reivindicar melhores condições vida para os bairros mais desfavorecidos. “É a forma como as situações de exploração estão normalizadas nos bairros. A sociedade acha normal que uma pessoa tenha quatro trabalhos para conseguir pagar uma renda insuportável, que ninguém consegue pagar. Atualmente isto não é uma questão dos bairros. É uma questão a nível nacional. Lutamos também pelo acesso à educação e à saúde, quando há tanta gente sem médico de família. Queremos chamar à atenção para as várias formas de pobreza”, refere à Renascença Flávio Almada, morador no bairro da Cova da Moura e também membro do Movimento Vida Justa.
Flávio Almada aproveita a ocasião para pedir que o Estado olhe com atenção para as minorias e que atenda às necessidades de quem está em situação mais vulnerável.
Odair Moniz foi morto por um agente da polícia a 21 de outubro. No início de 2025, o Ministério Público acusou do crime de homicídio, punível com pena de prisão de 8 a 16 anos, o agente da PSP que baleou o cidadão cabo-verdiano, no bairro da Cova da Moura. A próxima fase deste processo deverá ser o julgamento.
A manifestação deste sábado, que foi acompanhada e vigiada por elementos da PSP, fez uma paragem estratégica junto à fachada de um prédio, no Bairro do Zambujal, onde está a ser feita uma pintura de homenagem a Odair Moniz.