13 fev, 2025 • Afonso Cabral
Em 2019, a época não corria bem ao Benfica. No início de janeiro estava a sete pontos do rival e líder Porto. A intermitência do Benfica era paralela à de um menino que, apesar dos números interessantes, não conseguia ganhar o seu espaço. Bruno Lage foi então promovido a treinador principal e tudo mudou. Para o Benfica e para João Félix.
O jovem acabou com 20 golos na temporada, ajudou a conquistar o campeonato nacional e meia Europa queria contratá-lo. Eram apenas 19 anos e um futuro brilhante pela frente. O Atlético de Madrid ganhou o concurso ao acenar com 126 milhões de euros.
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“Simeone vai torná-lo completo”, “o modelo de jogo não serve para um virtuoso”... As opiniões divergentes multiplicavam-se. Em demasia, porque tudo na vida de João Félix era (e ainda hoje é) meticulosamente escrutinado, dentro e fora de campo.
O presidente do Atlético tentou protegê-lo, e ao seu dinheiro, enquanto pôde, mas o deteriorar da relação com Simeone levou-o à saída. Foram três épocas e meia de qualidade a espaços, mas que não justificaram o valor investido nele.
Seguiu-se o Chelsea. Mais meia época com um início fulgurante, mas em que o balão se esvaziou rápido.
Na praça pública continuavam as perguntas sobre o contexto e se seria o adequado. Primeiro, um Atlético de Simeone muito defensivo. Depois, um Chelsea pouco estável em plena reformulação.
Até que surge o Barça. Sentenças a olho nu apontavam os ‘blaugrana’ como o ‘match’ perfeito. Posse de bola, critério, qualidade… Félix, certo? A temporada foi boa, mais uma vez de forma intermitente, e, pelos problemas financeiros ou por outra razão qualquer, o Barça não avançou para a compra em definitivo do jogador.
A forma como festejou os golos que marcou em ambas as jornadas da Liga contra o Atlético retiraram-lhe a possibilidade de voltar ao seu clube original.
O Chelsea voltou a contratá-lo no início do verão deste ano, mas Maresca cedo mostrou contar com o talento do português apenas para a Conference League. Procuravam-se novos ares e aí surge o Milan e Sérgio Conceição, a quem Félix terá feito um único pedido: “Quero jogar na minha posição”.
Serie A
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No Milan, Félix segue as pisadas do seu ídolo Kaká. Joga atrás do avançado como fez no Benfica e tem liberdade para cair no corredor – esquerdo sobretudo – quando é conveniente, ou seja, quando há espaço mas sem ficar amarrado à esquerda, como tem sido em boa parte da sua carreira.
Porque é no espaço curto que Félix prospera. Na decisão rápida, na velocidade de execução em passe, drible ou remate.
Na linha torna-se mais um extremo sem vertigem suficiente para abalroar adversários em drible, e sem paciência para a mesma jogada vezes sem conta, em que a linha final é o objetivo. Como 10 tem hipótese de mostrar o menino de 19 anos que encantou o mundo. Entrelinhas, a receber e a ter de decidir em frações de segundo. Porque é aí que marca a diferença.
Aos 25 anos, o rótulo de jovem promessa já lá vai. É tempo de consistência, de continuidade. Porque já experimentou diferentes ligas e clubes de topo, com abordagens muito diferentes ao jogo, e nenhuma lhe serviu. Seja culpa sua, de outros ou apenas do valor exorbitante que o levou para Espanha, esta será uma das últimas oportunidades para confirmar o estatuto de predestinado que muitos lhe apontaram.
Felizmente para ele, vai acontecer na posição que melhor ocupa.