17 mar, 2025 • Isabel Pacheco
Nuno Fitas Mendes acredita que é possível uma economia “livre de carbono”.
O administrador executivo da REN Portgás está convencido de que a descarbonização é uma meta exequível e que cabe aos países europeus darem o exemplo de “cidadania” e de “humanismo” ao mundo.
“Só podemos fazer uma coisa. É através do exemplo demonstrar que é possível termos uma economia livre de carbono. Não conseguimos forçar as outras nações, porque elas são soberanas”, apontou Nuno Fitas Mendes durante o Conversas na Bolsa, na sexta-feira, no Palácio da Bolsa, no Porto.
Perante a impossibilidade de a “descarbonização” ser imposta aos outros países, o especialista em energia acredita que essa imposição vai chegar pela própria natureza.
“Não tenho grandes dúvidas que a natureza vai começar a dar mecanismos de feedback, como já deu (…) e vai ser difícil ignorá-los”, alertou. “A única esperança que podemos ter é que a Europa, quando chegarmos a esse momento, esteja bem preparada e consiga mostrar ao mundo que é possível descarbonizar uma sociedade”. Porque, acrescentou,“só através da manutenção do modelo de cidadania e de humanismo podemos vir a servir de exemplo”.
Para o especialista em energia o principal desafio a medio prazo é o desenvolvimento económico sem comprometer o futuro das próximas gerações.
“Já não é admissível continuarmos a evoluir baseados nos índices de consumo energético, o desafio é conseguirmos continuar a evoluir, mas com eficiência energética”, apontou o engenheiro referindo que, segundo o estudo World Energy Council que considera a segurança do abastecimento, a sustentabilidade e o património energético de cada país, Portugal até não está mal.
“Portugal nesta tabela está em 2023 no 17º lugar, a melhor pontuação que tivemos a nível mundial foi a décimo quarto lugar em 2021. Isto não é mau”, sublinhou Nuno Fitas Mendes lembrando que a posição nacional entre 130 estados é reflexo das políticas públicas.
“É impossível ter esta classificação sem termos tido políticas que ,no longo prazo, tenham sido bem pensadas e executadas. Nós não teríamos esta classificação se assim não fosse”, rematou.
Referindo-se a Portugal como “uma referência no que toca à inovação e à adoção de novas tecnologias” capaz de atrair investidores, o administrador executivo da REN Portgás lembrou, no entanto, que falta o país “ganhar escala” e investir na internacionalização do conhecimento.
“O capital humano que existe em Portugal nesta área é fortíssimo, ou seja, nós temos muito know-how. Sabemos utilizá-lo” reconheceu.
“Mas, o que é que podemos fazer mais? questionou. “Podemos ter mais escala, podemos fazer mais parcerias, podemos internacionalizar mais a vinda de empresas para Portugal , o que não tem sido difícil”. E, acrescentou “importava agora levarmos o know-how que temos para fora de Portugal”.
Em nome da descarbonização e no reforço da rede de distribuição de gás natural, a REN Portgás prevê investir mais de 100 milhões de euros até 2029.
“Temos um plano de investimento de mais de 100 milhões de euros”, anunciou o administrador executivo da empresa do grupo REN durante o Conversas na Bolsa explicando que o plano “tem em conta os princípios da descarbonização, os princípios da resiliência da rede, da sua capacitação do desenvolvimento e da sua infraestrutura para termos mais clientes”.
Segundo o responsável, o investimento previsto pela empresa “prevê a incorporação em quantidades progressivamente crescentes de biometano de hidrogénio, para além do gás natural em misturas”. A ideia, avançou, é conseguir “ter gás renovável em quantidade suficiente para substituir o gás natural importado”, adiantou.
“Se 100% do gás natural que consumimos fosse todo renovável? Teríamos alguma dúvida em o substituir? Provavelmente não”.Assim, acrescentou “deixávamos de importar gás natural e produzimos o nosso próprio gás renovável”, rematou.
A distribuidora de gás natural do grupo REN está presente na casa de 400 mil clientes de 29 concelhos dos distritos do Porto, Braga e Viana do Castelo.