13 jan, 2025 • Luís Caeiro
Nas últimas décadas a investigação provou que os homens e as mulheres diferem não só na maneira como tomam decisões como nos estilos de liderança que normalmente utilizam.
A mulher mostra comportamentos de liderança mais democráticos e participativos, próximos das lideranças transformadoras e autênticas. Tem uma comunicação mais clara e aberta que apela ao compromisso. Escuta as necessidades e preocupações das pessoas, clarifica as expectativas e as responsabilidades. Incentiva o trabalho de equipa, a decisão participada e reforça a autoestima dos colaboradores. Inspira otimismo e lidera pelo exemplo. Recompensa os bons desempenhos, encoraja as novas ideias e foca-se nas necessidades individuais de desenvolvimento.
O homem utiliza comportamentos mais diretivos e autocráticos. Usa o poder e o controlo, comunica de forma assertiva, analisa as questões com frieza e objetividade, e estimula a competição e a orientação para os objetivos. O seu estilo típico aproxima-se do modelo de liderança transacional, baseado no reforço e na punição.
O estilo tradicionalmente masculinos da liderança, baseado na autoridade, já não está a responder às novas culturas de trabalho caracterizadas pela valorização das relações pessoais e do bem-estar e pelo compromisso com os objetivos estratégicos. A economia pós-industrial favorece o estilo de liderança feminino. Em muitas organizações a liderança está a feminizar-se, não só porque há mais mulheres a assumirem funções de liderança, mas sobretudo porque, também nos homens, as características associadas à liderança feminina se ajustam melhor às mudanças tecnológicas, sociais e culturais da sociedade atual. A mulher é mais eficaz nas relações pessoais e tem uma atitude menos formalista em relação às hierarquias, tem mais capacidade de organização e de desenvolver tarefas em simultâneo, o que a torna mais apta a liderar em ambientes organizacionais caracterizados pelo trabalho de equipa, flexibilidade e fluidez da comunicação.
Um forte impulsionador da feminização da liderança foi a necessidade de estruturas organizacionais mais planas, ágeis e flexíveis, e a generalização do trabalho em equipa. Os soft skills relacionados com a comunicação, a resolução de conflitos, a gestão do desempenho e o apoio ao desenvolvimento das pessoas, são fatores de sucesso e características associadas ao comportamento feminino. Ao mesmo tempo, o aumento do número de mulheres qualificadas que chega às organizações, traz consigo novas práticas e novos modelos de interação.
A liderança transformadora tem sido amplamente reconhecida como ajustada aos desafios das organizações atuais e muitos estudos provam que a mulher pratica mais este estilo de liderança. A liderança transformadora transmite uma visão inspiradora dos objetivos, incentiva o compromisso, encoraja o pensamento crítico, reconhece as necessidades e as capacidades únicas de cada pessoa, influencia pelo exemplo, entusiasmo e otimismo, e gera ambientes de confiança fundados no desempenho ético.
A feminização tem sido também impulsionada pela mudança nos valores sociais. Muitas organizações reconhecem que, face aos atuais desafios, as competências de inteligência emocional como a escuta ativa, a gestão das emoções e a empatia, mais associadas ao comportamento feminino, são essenciais à formação de líderes capazes de conseguir equipas motivadas e produtivas. A esta tendência não é estranha a mudança nos valores que hoje defendem a diversidade e a inclusão, abrindo o caminho a diferentes estilos de liderança e aos comportamentos de cuidado e apoio.
Outras fatores têm contribuído no mesmo sentido. O sucesso da psicologia positiva, a crescente preocupação com os efeitos destrutivos das lideranças tóxicas no ambiente de trabalho, e a atenção que hoje é dada ao bem-estar psicológico e à conciliação da profissão com a vida pessoal, são aspetos que valorizam estilos de liderança mais empáticos e colaborativos. O sucesso das lideranças femininas em vários países, durante a primeira fase da pandemia de Covid-19, mostrou também que as mulheres na liderança de crises podem obter resultados superiores com uma abordagem mais humana e outra forma de gerir os riscos.
O conceito de liderança andrógina surgiu para designar a combinação dos padrões de liderança masculino e feminino, e propõe a utilização prática das vantagens dos dois estilos. Esta compatibilização dos comportamentos de género exige do homem e da mulher uma aprendizagem mútua e maior flexibilidade no ajustamento à nova realidade do trabalho. A associação dos padrões de liderança masculino e feminino permite superar a dicotomia dos estereótipos de género e adotar abordagens mais eficazes e inclusivas. A androginia pode também ser a resposta às limitações de uma liderança tradicionalmente masculinizada e facilitar a resolução do principal conflito de papeis que tem bloqueado a liderança feminina: ser assertiva e competitiva, no papel de líder e, ao mesmo tempo, ser colaborativa e apoiante, enquanto mulher.
Luís Caeiro, professor na Católica Lisbon School of Business & Economics
Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics