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Opinião Católica-Lisbon

Preparar e motivar os colaboradores mais experientes para os desafios do futuro em Portugal

27 jan, 2025 • Vera Herédia Colaço • Opinião de Vera Herédia Colaço


A requalificação ajuda as empresas a reter talento, reduzindo a rotatividade de pessoal e os custos associados ao recrutamento e formação de novos funcionários.

Nos últimos anos, Portugal enfrentou diversas oportunidades e desafios económicos e sociais decorrentes da rápida digitalização e da globalização. Neste contexto de transformação constante, a requalificação da força de trabalho deixou de ser uma opção para se tornar uma prioridade estratégica nacional.

O setor do comércio - abrangendo o comércio a retalho e o comércio por grosso - permanece como o maior empregador em Portugal, representando 16,4% do emprego em 2021 (FJN, 2023). No entanto, este setor, incluindo o retalho, o comércio grossista, a logística e a indústria, enfrenta um grave déficit de qualificações. Segundo dados do Fórum Económico Mundial (2023, 2025), 44% das funções em setores como o retalho, a logística e a produção serão impactadas pela automação nos próximos cinco anos, intensificando a necessidade de capacitar a força de trabalho nacional para estas transformações. E também, o upskilling e o reskillling são vitais, com cerca de 39% das competências existentes a tornarem-se obsoletas.

Um estudo da McKinsey & Company (2021) destaca ainda que 87% das empresas enfrentam lacunas de competências ou esperam enfrentá-las nos próximos cinco anos, sublinhando a urgência da requalificação. Adicionalmente, dados da Comissão Europeia (2022) revelam que cerca de 44% dos adultos portugueses não possuem competências digitais básicas. Ou ainda que, em termos de literacia, numeracia e resolução adaptativa de problemas, os adultos mais velhos (55-65 anos) em Portugal apresentaram desempenho inferior ao dos jovens de 25-34 anos (OCDE, 2024). Estas estatísticas evidenciam que Portugal precisa de acelerar esforços para capacitar a sua força de trabalho e mantê-la competitiva num mercado global. Tendências como o e-commerce e a integração de inteligência artificial (IA) no retalho e no comércio ressaltam ainda mais a urgência de desenvolver competências em áreas como a análise de dados, a gestão de negócios e de cadeias de abastecimento, assim como a inovação entre os trabalhadores mais experientes, mas com menores qualificações. Em suma, reconfigurar o panorama e a requalificação contínua é vital.

Governança: O pilar "G" de ESG na requalificação

A governança, no contexto de Environmental, Social, and Governance (ESG), representa o "G" e refere-se à capacidade das organizações de implementar práticas éticas, transparentes e estrategicamente sólidas que beneficiem todas as partes interessadas. De acordo o IAPMEI (2024) e segundo um relatório da Informa D&B (2024), melhores scores ESG estão associados a melhores desempenhos financeiros. De acordo com os dados do relatório, quanto maior o score ESG, maior é a percentagem de empresas com um crescimento médio positivo no seu volume de negócios, o que reforça a relação entre as boas práticas de ESG e resultados financeiros positivos. No entanto, apenas 9% das empresas em Portugal apresentam um score ESG elevado, o que indica uma oportunidade significativa para o fortalecimento do desempenho financeiro a partir da implementação de melhores práticas ESG.

No caso da requalificação da força de trabalho, a Governança desempenha um papel essencial ao alinhar os interesses corporativos com o desenvolvimento humano e o progresso social.

Empresas que priorizam o "G" de ESG ao investir em educação e na requalificação demonstram responsabilidade não apenas para com os seus acionistas, mas também com colaboradores, consumidores e a sociedade. De acordo com a PwC (2024), 83% dos colaboradores que se sentem valorizados pelo seu empregador apresentam índices superiores de satisfação e produtividade. Assim, as empresas devem investir nesta área, com os Recursos Humanos a desempenhar um papel fundamental na implementação e promoção das práticas ESG através de programas de gestão de talento que visem melhorar as competências das suas equipas.

Parcerias empresariais com instituições de Ensino Superior

Empresas com visão de futuro devem considerar parcerias com universidades e instituições de ensino superior para criar programas de formação específicos, adaptados às necessidades do setor. Estes programas podem incluir cursos de curta duração, mas sobretudo programas adaptados às necessidades dos profissionais que permitam uma integração mais fluida entre o trabalho e os estudos.

Por exemplo,

  1. Parcerias com universidades: através da criação de programas específicos com instituições de ensino, adaptados às suas necessidades e ao setor em que operam.
  2. Valorização de aprendizagem contínua: por via da implementação de políticas que incentivem os colaboradores a participar em programas que conferem grau, como as licenciaturas ou mestrados executivos, ou formação pós-graduada, e que lhes permite fazer um upskilling ou reskilling das suas equipas.
  3. Integração entre trabalho e educação: a criação de horários flexíveis e apoiar financeiramente cursos online ou presenciais, recompensando conquistas académicas com reconhecimento, promoções ou bónus.

Um exemplo concreto é a parceria, premiada internacionalmente, entre a Jerónimo Martins e a CATÓLICA-LISBON para a criação de uma Licenciatura Executiva em Gestão Comercial e de Retalho que foi acreditada em 2022 e lançada em 2023, promovendo um modelo pioneiro de formação que concilia a vida profissional com obtenção de novas competências e de um grau académico, destinada a profissionais com a aspiração de uma formação superior.

Investir em educação superior traz benefícios mútuos. Para os colaboradores, a requalificação oferece uma oportunidade de progressão na carreira e uma maior segurança no emprego. Para as empresas, uma força de trabalho mais qualificada traduz-se em maior inovação, eficiência operacional, e capacidade de responder às mudanças do mercado.

Além disso, a requalificação ajuda as empresas a reter talento, reduzindo a rotatividade de pessoal e os custos associados ao recrutamento e formação de novos funcionários.

De acordo com os princípios de vários pensadores da gestão, como Peter Drucker, o maior ativo de qualquer organização é a sua força de trabalho preparada para o futuro. E como os dados têm demonstrado, investir em educação contínua é mais do que uma necessidade; é um passo essencial para transformar desafios em oportunidades para um Portugal mais competitivo, sustentável e alinhado com os valores ESG.


Vera Herédia Colaço, Professora e Investigadora da Católica Lisbon School of Business & Economics

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics

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