24 fev, 2025 • André Alves
Ao longo das últimas décadas, a relação entre marcas e consumidores sofreu uma profunda transformação, impulsionada pelos avanços tecnológicos, pela crescente literacia dos consumidores e pela disseminação da informação.
Se, no passado, a comunicação das marcas era essencialmente unidirecional, sustentada em modelos tradicionais direcionados ao mass market, hoje assiste-se a um paradigma distinto. Os consumidores tornaram-se mais exigentes, informados e participativos, valorizando não apenas produtos e serviços, mas sobretudo experiências personalizadas e autênticas que proporcionem valor acrescido.
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A digitalização tem sido um dos principais catalisadores desta mudança, forçando as marcas a reconfigurarem a sua abordagem e, muitas vezes, a repensarem os seus modelos de negócio.
Neste contexto, destacam-se duas dimensões fundamentais para a transformação do tecido empresarial – as tecnologias de informação (IT) e o marketing. Estas áreas emergem como pilares estratégicos, promovendo inovação e impulsionando resultados que, de outra forma, seriam inalcançáveis. A convergência entre infraestruturas tecnológicas, análise de dados e as estratégias de marketing permite às marcas adquirirem uma vantagem competitiva, essencial num ecossistema dinâmico e digital.
Há inúmeros exemplos representativos desta simbiose, mas, como seria impossível retratá-los todos, destacarei aqueles que, para um profissional de marketing como eu, fazem parte do kit de sobrevivência essencial.
O primeiro exemplo é a tão aclamada inteligência artificial que, dentro das suas múltiplas vertentes, possibilita a criação de segmentos de público mais precisos, otimizando o alcance das audiências e aumentando a eficácia das campanhas.
O segundo é a análise de dados, que permite a tomada de decisões estratégicas em tempo real, afastando-se do empirismo e reforçando a necessidade de ações fundamentadas em informações concretas.
O terceiro é a otimização e automação de processos obsoletos, mas necessários, libertando os profissionais de marketing de tarefas repetitivas e permitindo-lhes concentrar-se na inovação e no desenvolvimento de estratégias diferenciadoras.
O quarto e último é o conhecimento aprofundado do consumidor, proporcionado por estas novas tecnologias, que permite a criação de interações mais relevantes e impactantes, tornando-se, posteriormente, um fator determinante para a fidelização e diferenciação das marcas num mercado altamente competitivo.
Tal como nas peças de Shakespeare, onde a aparente harmonia inicial se desvanece com a revelação de desafios e dilemas complexos, também nesta simbiose entre marketing e tecnologia existem sombras que não podem ser ignoradas. Se até agora todos os benefícios pareciam conduzir a um desfecho ideal, eis que surge o inevitável dilema: a segurança e a privacidade dos dados. O equilíbrio delicado entre a inovação tecnológica e a proteção da informação pessoal impõe-se como um dos maiores desafios contemporâneos. A transparência e a ética não podem ser sacrificadas em prol de ganhos financeiros imediatos, sob o risco de comprometer a confiança dos consumidores. A conformidade com regulamentos como o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) deve ser encarada como uma oportunidade para reforçar a credibilidade das marcas e consolidar relações sustentáveis com o público.
A interligação entre marketing e IT não é apenas uma tendência, mas uma necessidade estratégica que redefine a forma como as empresas se relacionam com os consumidores. Já existem empresas que procuram inovar e oferecer aos seus clientes soluções integradas e abrangentes, como é o caso da People to People, empresa de IT que acredita que a sua diferenciação está no valor das pessoas que dela fazem parte, e que acrescentam aos seus serviços de IT, uma oferta de marketing estratégico. Esta visão integrada representa um avanço significativo na forma como as organizações estruturam as suas estratégias e garantem um suporte completo às necessidades do mercado. Como afirmou Peter Drucker, um dos maiores pensadores da gestão contemporânea: "A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.”, e as empresas que adotarem esta abordagem serão as líderes do amanhã.
André Alves, Brand & Digital Marketing Diretor da Católica Lisbon Business School & Economics
Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica-Lisbon School of Business and Economics