11 mar, 2025
O Papa Francisco diz-nos que “Tudo nasce para florir numa eterna primavera”.
A verdade é que, por vezes, somos confrontados com novas realidades que nos suscitam dúvidas sobre a “chegada da Primavera”.
Victor Riparbelli, e numa TED (Technology, Entertainment, Design) Talk provocadora, acontecida em finais de 2024, terá referido que a Inteligência Artificial (IA), que imita a inteligência humana, tornará, no final da década, a palavra escrita obsoleta e os principais meios de comunicação serão o vídeo e o áudio.
Ray Kurzweil adianta que já em 2029 a IA vai ser “melhor que todos os humanos” quer, designadamente, ao nível da energia solar, quer da distribuição gratuita de bens e serviços em que muitas partes do mundo mais facilmente terão acesso a bens essenciais.
Para os arautos da IA, o seu uso trará grande benefício para toda a humanidade, pois imprimirá, nas tarefas que realiza, mais competência e velocidade.
Efetivamente, a IA permite-nos num curto espaço de tempo, e com menores encargos financeiros, tirar apontamentos, efetuar sumários, proceder à leitura de e-mails e apresentar, até, as respostas naqueles suscitadas, fazer agendamentos, marcar consultas, a que acrescem os benefícios da sua utilização em áreas como a agricultura, a cibersegurança, no serviço aos clientes e nos transportes. Não há dúvidas que esta ferramenta gera impacto positivo na produtividade com a consequente menor perda de tempo nas atividades a realizar e com poupança financeira.
Agora, este novo mundo da IA comporta riscos, mormente, o risco “do capitalismo de vigilância” e o da manipulação dos factos, da manipulação da realidade em que esta passa a ser vista não com os nossos olhos, mas, antes, com os olhos daqueles que ditam as regras da IA. Tal realidade terá como consequência “uma crise da verdade no espaço público” com danos irreparáveis para a Democracia, para qualquer Estado de Direito.
Um estudo do Fórum Económico e Mundial também refere que a IA poderá afetar 40% dos empregos a nível mundial. Contudo, não é menos verdade que o seu uso permitirá que muitos homens e mulheres venham a aceder a outras oportunidades, a outras carreiras.
Cremos que a IA deve ser utilizada para se alcançar “maior justiça, maior fraternidade e uma ordem mais humana de relações sociais”, mas, existe o sério risco de o seu uso colocar a tónica na eficiência em detrimento da dignidade da pessoa humana.
Daí que seja imperioso que neste mundo novo as entidades governativas venham a criar mecanismos de avaliação crítica das aplicações da IA, a fim de a colocar ao serviço da humanidade e não a humanidade ao serviço da IA, sob pena de contribuirmos para a violação da dignidade humana, do bem comum.
Paula Margarido, Advogada e Deputada da XVI Legislatura