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Opinião de Pedro Celeste
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Opinião Católica-Lisbon

Uma coisa é certa: Incerteza

31 mar, 2025 • Pedro Celeste • Opinião de Pedro Celeste


As marcas estrela que vão cintilando por estes dias, num dia atingem máximos históricos e no seguinte esvaziam todo o ganho adquirido. Mesmo assim, alguns cenários e tendências parecem ser mais ou menos previsíveis.

O tempo de dar credibilidade à construção de cenários futuros sobre as tendências económicas, setoriais ou empresariais faz parte do passado. Aprendemos todos os dias, com exemplos concretos com origem em conflitos políticos e económicos, que vivemos, cada vez mais, num cenário de incerteza e de grande volatilidade.

O gráfico da cotação em bolsa de algumas das marcas de referência mundiais mais parece um registo de um eletrocardiograma repleto de arritmias.

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Foi neste panorama que a NVidia se tornou repentinamente na marca mais valiosa no mundo, ultrapassando a Apple com uma capitalização bolsista perto dos 3,5 biliões de dólares, tendo triplicado o seu valor no espaço de um ano. Foi neste contexto que analistas reputados perspetivavam um crescimento contínuo do valor das suas ações para um patamar perto dos 160 dólares a breve prazo.

Ora, semanas depois, saiu da cartola a Deepseek, que assumiu a liderança das pesquisas e downloads a nível mundial, no âmbito das plataformas de inteligência artificial (IA), incluindo nos EUA. Nesse mesmo dia, a capitalização da NVidia caiu 590 mil milhões de dólares e hoje as suas ações estão cotadas a 115 dólares, isto é, 30% abaixo do perspetivado.

Para termos uma ideia desta quebra num só dia, ela é superior ao investimento de 500 mil milhões de dólares que o governo norte-americano anunciou para o projeto Stargate, numa colaboração entre Oracle, SoftBank, OpenAI, MGX, NVidia, ARM e Microsoft, com a finalidade de garantir a liderança mundial na área da inteligência artificial.

Nada nos garante que não ocorra um volte face, a curto prazo.

Com a Tesla sucedeu um cenário semelhante. Um mês após o dia das últimas eleições nos EUA, as ações da Tesla valorizaram 100%, tendo crescido em valor de mercado 300 mil milhões de dólares. O protagonismo de Musk na cena mundial contribuiu muito para esse resultado. Passados três meses, perdeu mais do dobro todo esse ganho, num total de 700 mil milhões. Provavelmente por causa do mesmo protagonista.

As marcas estrela que vão cintilando por estes dias, num dia atingem máximos históricos e no seguinte esvaziam todo o ganho adquirido.

Mesmo assim, alguns cenários e tendências parecem ser mais ou menos previsíveis, tendo em consideração os dados disponíveis e uma leitura atenta sobre os diferentes fenómenos.

Numa perspetiva macroeconómica e geopolítica, é natural que continuemos a assistir ao domínio das economias norte-americana e chinesa, confirmando a sua supremacia face ao resto do mundo, designadamente da Europa. Em particular, veremos índices de maior crescimento a Oriente, fruto da penetração em novos mercados externos, a níveis de competitividade difíceis de combater. Isto significa que se reforça a lógica de dois grandes blocos económicos, que regem toda a dinâmica empresarial mundial, seja no capítulo da indústria, da tecnologia ou do digital.

A um nível de competitividade mundial, as empresas precisam garantir flexibilidade, capacidade em lidar com momentos prolongados de agonia e coragem para navegar em mercados permanentemente turbulentos.

Só o foco na produtividade, na eficiência operacional e na criação de valor para os clientes constituirão os três vértices do triângulo da estratégia futura de qualquer empresa.

Mas, a continuar este figurino de altos e baixos repentinos e constantes, desenhar uma previsão a cinco anos de qualquer indústria ou negócio quase passou a ser um exercício de profecia.


Pedro Celeste é diretor do Executive Master in Strategic Marketing da Católica Lisbon Business School & Economics

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics

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