15 abr, 2025 • José Pedro Frazão
O relatório da Organização Meteorológica Mundial e do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do programa Copernicus da União Europeia destaca 2024 como um ano de fortes inundações e de muito stress por calor.
Para além de reconfirmar 2024 como o ano mais quente de sempre na Europa, o relatório adianta que em 45% dos dias, estes foram muito mais quentes do que a média. Cerca de 12% dos dias foram os mais quentes de que há registo. Cerca de 69% da área terrestre europeia teve menos de 90 dias de geadas. "Esta é a maior área já registada a ser vista em tão poucos dias", adianta o relatório.
"A área com temperaturas recorde abrangeu principalmente o centro, o leste e o sudeste da Europa, mas também o norte da Escandinávia e o sudeste de Espanha. Noutras partes da Europa, as temperaturas foram geralmente superiores à média, sendo cerca de 85% da região muito superior à média", pode ler-se no documento.
2024 foi o segundo ano com o maior número de dias com stress térmico "forte", "muito forte" e "extremo". 60% da Europa teve mais dias do que a média com “forte stress pelo calor”.
Julho de 2024 assistiu à mais longa onda de calor alguma vez registada no sudeste da Europa, de acordo com o relatório agora publicado. Não há ainda uma estimativa para a mortalidade associada ao calor em 2024, mas em 2023 estima-se em 47 700 o número de mortes associadas ao calor na Europa.
A variação entre leste e oeste do continente é assinalável para os cientistas que lançam este trabalho. "Enquanto a maior parte da Europa registou temperaturas acima da média para todo o ano, o calor mais extremo ocorreu no sudeste da Europa", pode ler-se no documento. O número de "noites tropicais" foi o segundo mais elevado de sempre.
Também a temperatura da superfície do mar para a região europeia foi a mais elevada alguma vez registada: 0,7°C acima da média, e, no caso do Mar Mediterrâneo, 1,2°C acima da média.
Foi um ano de fortes inundações na Europa. As tempestades e as inundações afetaram cerca de 413.000 pessoas na Europa, com pelo menos 335 mortes, de acordo com o relatório agora publicado. Quase um terço da rede fluvial sofreu inundações que ultrapassaram pelo menos o limite de inundação "elevado" e 12% superaram os níveis de inundação grave. 2024 foi também um dos dez anos mais chuvosos na Europa Ocidental desde 1950, com dois eventos a concentrar atenções no Outono.
A tempestade Boris afectou grande parte da Europa Central e de Leste em Setembro. No mês seguinte, cheias extremas que atingiram a região de Valência, em Espanha, batendo recordes nacionais para precipitação total numa hora, em 6 e em 12 horas, embora não em 24 horas.
Houve um claro contraste entre o leste e o oeste nos caudais dos rios. " A Europa Ocidental registou caudais fluviais generalizados acima da média, com algumas bacias hidrográficas, como o Tamisa no Reino Unido e o Loire em França, a registarem os seus maiores caudais num recorde de 33 anos em quatro meses de Primavera e Outono", pode ler-se no documento. Enquanto isso, a Europa de Leste registou caudais dos rios abaixo da média durante grande parte do ano, de acordo com o relatório.
Para além das grandes inundações de Valência, o documento faz ainda referência à Península Ibérica, ao identificar que em outubro, o caudal do Tejo atingiu níveis recorde. Globalmente, os rios ibéricos passaram de caudais "próximo ou abaixo da média" para "muito acima da média".
Portugal desequilibrou as contas europeias no que diz respeito a incêndios.
Em Setembro, a área ardida no acumulado do ano na Europa estava abaixo da média. Numa semana tudo mudou com vários grandes incêndios num curto período em Portugal. O relatório aponta para cerca de 110.000 hectares ardidos numa semana, com Portugal a multiplicar por 10 a área ardida em 2024 no espaço de apenas um mês.
Portugal acaba por concentrar 32% da área total ardida na Europa em 2024, que atingiu cerca de 400.000 hectares, ligeiramente acima da média.
Os incêndios de Setembro em Portugal fizeram ainda disparar as emissões de incêndios na Europa que tinham permanecido abaixo da média durante a maior parte do ano.
As altas temperaturas fizeram aumentar o risco de incêndio no sudeste da Europa para valores acima da média em junho e agosto devido às temperaturas extremas.