Siga-nos no Whatsapp
Euranet
Euranet
Os assuntos da atualidade nacional e europeia numa parceria Renascença Euranet Plus.
A+ / A-
Arquivo

Aproximação UE-China será inevitável? "Essa tentação tem de ser muito bem calibrada"

16 abr, 2025 • Pedro Mesquita


Em plena guerra das tarifas cresce a expetativa sobre os resultados da visita de António Costa e Ursula Von der Leyen à China, prevista para julho. Perante a estratégia de Trump, deve a UE reaproximar-se comercialmente de Pequim? A Renascença falou com Mário Godinho de Matos e Bernardo Mendia.

A aproximação da União Europeia (UE) à China, na sequência da guerra comercial declarada por Donald Trump, é inevitável? Há respostas que valem milhões. E vale a pena, também por isso, procurar duas leituras diferentes.

A Renascença ouviu Mário Godinho de Matos, antigo chefe de missão-adjunto na embaixada de Portugal em Pequim, que integrou o Grupo de Ligação Conjunto Luso-Chinês para a Transição de Macau. Este diplomata, que desempenhou igualmente as funções de representante permanente adjunto de Portugal junto da NATO, lembra que “as relações UE-EUA e UE-China são qualitativamente diferentes”.

Para conhecer, também, nas próximas linhas, a opinião do secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa. Bernardo Mendia, que é simultaneamente presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Hong Kong, acredita que a “União Europeia não tem outra alternativa senão negociar com quem está disponível para negociar”.

Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui

Face às políticas "erráticas" de Trump, também no plano económico, a Renascença quis saber se é inevitável uma cedência da União Europeia à tentação chinesa, no plano comercial. A resposta de Mário Godinho de Matos é diplomática: “Essa tentação tem de ser muito bem calibrada, porque a União Europeia tem uma relação estratégica com os Estados Unidos de outro tipo, uma relação política e de segurança (…). A maior parte dos países da União Europeia são membros da NATO”.

Vistos gold e TikTok. Trump apresenta trunfos para negociar tarifas com a China
Vistos gold e TikTok. Trump apresenta trunfos para negociar tarifas com a China

Mário Godinho de Matos sublinha, neste quadro de indefinição, que é preciso “ver como é que a situação evolui” e lembra que “as relações União Europeia-EUA e UE-China são qualitativamente diferentes”.

Na leitura deste diplomata, aquilo que a União Europeia tem feito - e a presidente da Comissão Europeia – “é desenvolver um diálogo paralelo também com a China”. Mário Godinho de Matos recorda que esse diálogo existe: “Há uma parceria estratégica também com a China, que foi melhorada em 2013. Portanto, esse diálogo sempre existiu. Tem é que se atualizar em função daquilo que for a evolução americana que, neste momento, é imprevisível”.

Já depois de anunciar a aplicação de tarifas de 20% aos produtos europeus importados pelos EUA, Trump decidiu suspender a medida, abrindo um período negocial de 90 dias.

Neste tempo atribulado para a Europa juntam-se aos desafios da Defesa, uma guerra comercial à escala planetária e seria, porventura, arriscado que a Europa tentasse escapar a uma dependência económica, para se entregar a uma outra. Não tem de ser assim, esclarece Mário Godinho de Matos: “A União Europeia é um mercado de 500 milhões de consumidores, com avanços muito significativos a todos os níveis, inclusive tecnológicos. Tem é que se situar eventualmente entre essas duas forças, e tentar negociar no sentido de proteger os interesses europeus”.

"UE não tem alternativa senão negociar com quem está disponível para negociar"

Que tipo de aproximação comercial poderá existir entre a China e a União Europeia, perante a estratégia tarifária de Donald Trump? O secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa sublinha que o interesse de Pequim sempre existiu, “o desenvolvimento económico através das trocas comerciais”. A grande diferença, admite, com a entrada em cena de Donald Trump, é que “isto acaba por ser uma oportunidade, ainda maior, para a China de assumir o papel de grande promotor da multilateralidade económica”.

E, na leitura de Bernardo Mendia, Pequim não precisa, no entanto, de fazer muito para tentar convencer Bruxelas de que chegou o momento: “A China não precisa de fazer muito, só precisa de fazer aquilo que já fazia antes”. Acima de tudo, o que a China procura “é que lhe seja dado aquele lugar que eles consideram que já ganharam por mérito próprio”.

A Renascença perguntou a Bernardo Mendia, se a resistência da União Europeia não existirá, nomeadamente, por causa de uma alegada concorrência desleal: “Sim, tem havido muita resistência. Não é de agora, isto é muito antigo. Como se sabe, entre 2013 e 2020 foi negociado um acordo comercial, um acordo de investimento entre a União Europeia e a China para regular, para abrir mais o mercado chinês também ao investimento europeu. O que sucedeu foi que depois desse acordo ter sido negociado entre a Comissão Europeia e as autoridades chinesas, ele depois não foi ratificado pelo Parlamento Europeu”.

E o secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa remata: “esta é uma boa oportunidade para, finalmente, se assinar esse acordo”.

Há, contudo, um outro receio de Bruxelas: que a guerra das tarifas venha a inundar o mercado europeu de produtos chineses que deveriam ir para os EUA. Perante esta dúvida, colocada pela Renascença, Bernardo Mendia responde que “é precisamente esse o interesse do acordo comercial entre a União Europeia e a China”. Esses acordos, acrescenta, “servem precisamente para regular e para que a parceria comercial seja saudável para os dois lados”.

Já quanto à deslocação à China de António Costa e Ursula Von der Leyen, prevista para julho, o secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa é particularmente enfático: “É óbvio que essa viagem se prende com o facto de os EUA terem virado as costas à União Europeia com estas tarifas. E, portanto, a União Europeia não tem outra alternativa senão negociar com quem está disponível para negociar”.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.