20 mar, 2025 • André Rodrigues
"Não abusem dos pagamentos automáticos". É o aviso do governador do Banco de Portugal. Mário Centeno diz mesmo ter "horror" a pagamentos automáticos e diz que é preferível realizar pagamentos em numerário como forma de controlar despesas.
São todas as transferências de dinheiro de uma conta para a outra sem troca de moeda física e que utilizamos todos os dias nas compras que realizamos. Usando cartões como o Multibanco, ou o cartão de crédito, o MBWay e os débitos diretos. Até mesmo pagamentos com criptomoedas. Ou seja, dinheiro que sai da nossa conta bancária sem que demos conta disso, porque não nos passa pelas mãos.
No entanto, estudos do Banco de Portugal indicam que a maioria dos portugueses paga as suas contas por meios automáticos. Multibanco e MBWay são os mais utilizados.
Depende do controlo que cada um faz, mas, num primeiro momento, não se tem bem a perceção do dinheiro que sai do bolso.
Os consumidores que fazem um controlo periódico das suas entradas e saídas de dinheiro têm a vantagem de ficar com todos os pagamentos registados, podem consultar os seus movimentos a qualquer altura, controlando assim as suas despesas. Além disso, é prático pagar com cartão, porque não obriga a ter o valor certo na carteira e é mais seguro, porque o dinheiro vivo é mais fácil de roubar.
Quem não faz um controlo tão rigoroso, pode exceder-se nos gastos. Quando não levamos dinheiro certo na carteira, há a tendência de comprar uma ou outra coisa a mais do que se tivéssemos a quantia exata. E isso não ajuda a ter a noção do valor final, porque o consumidor sabe que tem suficiente na conta.
Consequência? Ultrapassa-se o orçamento mensal, o que prejudica as contas ao final do mês.
Por exemplo, nos casos em que há contas com um valor descoberto associado - que é a margem permitida para o saldo negativo na conta bancária - esse défice pode acumular-se e, no final do mês, o banco cobra juros sobre o montante utilizado a descoberto. E isto é preocupante, por exemplo, quando há um uso excessivo do cartão de crédito, não apenas nos pagamentos automáticos, mas também nos levantamentos de dinheiro - o cash advance.
Se o cliente optar por pagar em prestações o dinheiro que levantou com o cartão de crédito, acaba por ter custos excessivos elevados. E, se não pagar dentro do prazo que acordou pela totalidade do saldo em divida, vai aumentar essa dívida, com juros e comissões.
Dados do Banco de Portugal, conhecidos há uma semana, revelam que, no final do ano passado, o endividamento dos particulares era de aproximadamente 160 mil milhões de euros. É o valor mais elevado desde agosto de 2012.
Estes alertas do governador do Banco de Portugal são para todos.
No entanto, Mário Centeno sublinha que a crescente digitalização dos serviços financeiros contribui para que as novas gerações comecem a utilizá-los mais cedo.
E, diz Centeno, há uma excessiva confiança dos jovens na utilização de canais digitais de pagamentos, que pode levar a decisões pouco ponderadas, pouco fundamentadas, o que acaba por ter consequências na gestão do orçamento.