07 abr, 2025 • Fátima Casanova
Fala-se muito dos perigos e dos desafios que a inteligência artificial coloca, mas nada como ter um exemplo concreto para perceber como os humanos podem ser enganados.
Uma teoria que tem vindo a ser defendida por intelectuais nas últimas semanas é a da hipnocracia, mas afinal o seu autor não passa de uma criação com inteligência artificial que foi revelada no final da semana passada.
Jianwei Xun nasceu em Hong Kong, estudou na Irlanda, em Dublin, e atualmente vive em Berlim, na Alemanha.
É o autor de “Hipnocracia: Trump, Musk e a nova arquitetura da realidade”, um livro que está a fazer grande sucesso. Foi lançado a 15 de janeiro com edição simultânea em italiano e em inglês e em Itália foi mesmo um dos ensaios mais vendidos durante a primeira quinzena de março.
No livro, surge a teoria da Hipnocracia, que tem sido comentada de forma muito entusiástica, nomeadamente em países como Itália, Espanha e França.
Basicamente, no livro, Jianwei Xun diz que Donald Trump e Elon Musk são os responsáveis por colocar o mundo num estado de permanente hipnose, em que a consciência coletiva fica abafada.
Esta é a teoria da hipnocracia, que permite a Trump e a Musk delinear uma nova arquitetura de realidade. De forma muito resumida, é isto que tem estado a ser analisado e comentado nos meios académicos e não só.
Sim, a deputada do PSD Ana Gabriela Cabilhas usou esta teoria da hipnocracia para defender Luis Montenegro. Num texto de opinião, disse que a hipnocracia, ao criar imaginários coletivos, pode beneficiar ou boicotar uma governação e influenciar eleições.
Este não é caso único. Também Manuel Maria Carrilho já falou sobre esta teoria no seu blog e no Facebook. O antigo ministro da Cultura e filósofo refere-se ao livro como “pequeno, mas acutilante" porque a teoria da hipnocracia é exatamente aquilo que está a acontecer com a administração Trump.
Na verdade, só existe no mundo virtual. Jianwei Xun é a criação de um filósofo real, Andrea Colamedici, que colaborou com vários sistemas de inteligência artificial, que ganhou vida no final do ano passado.
Colamedici admitiu que não estava à espera do sucesso do livro e que ficou surpreendido por ninguém perceber que se tratava de um autor inventado. Em declarações à imprensa, refere que há várias pistas, logo no primeiro capítulo do livro, incluindo referências a um livro que não existe.
O filósofo italiano acreditava que o livro da autoria da inteligência artificial seria facilmente desmascarado, mas não só não foi, como acabou por ser citado por pensadores de vários países.