27 mai, 2019
O chamado Acordo Ortográfico (AO) foi assinado fará em Dezembro 39 anos. Mas foi ratificado por apenas quatro países: Portugal, Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Não o ratificaram Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste. No Brasil, a Câmara dos Deputados deverá debater em breve a possível revogação do AO. E no Parlamento português foi entregue em abril passado uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o AO, com mais de 20 mil assinaturas.
Ora, a finalidade do AO era criar uma ortografia unificada, comum a todos os países de língua oficial portuguesa. Quase 40 anos depois de assinado, o acordo falhou no seu grande objetivo.
Em Portugal muita gente não aceita este acordo e recusa-se a escrever segundo o que ele impõe. E são frequentes os ataques ao AO. Por exemplo, o estimável jornalista do “Público” e meu amigo, Nuno Pacheco, não se tem cansado de denunciar os absurdos do lamentável documento.
Não possuo qualificações para debater seriamente o AO. Apenas tenho pena de que, sendo eu um jornalista que escrevia com muito poucos erros ortográficos, agora não seja capaz de perceber qual é a ortografia correta. “Correta” sem c porque o “software” do computador logo sublinharia a vermelho o tremendo erro.
Talvez o meu desagrado em relação ao AO tenha a ver sobretudo com preguiça de mudar, depois de tantos anos a escrever todos os dias ou quase com a ortografia que aprendi na instrução primária. E compreendo que os defensores do AO me digam: então, deveríamos escrever “pharmacia” em vez de farmácia.
Mas há coisas que não são aceitáveis no AO. Por exemplo, tirar as maiúsculas dos dias da semana e dos meses. Ou implicar com a grafia de nomes pessoais. Mas ninguém protesta, e ainda bem, por se escrever Sophia, como se escrevia quando a poeta nasceu, há um século.
Também não alcanço as alegadas vantagens da unificação ortográfica nos países de língua oficial portuguesa. Na língua inglesa, uma das mais faladas no mundo, não existem problemas de unificação: os britânicos escrevem “labour” (trabalho) e os americanos “labor”. Não parece que algum falante e escrevente de inglês se preocupe com a diferença.