21 ago, 2023
Todos os anos, cerca de 40% de jovens licenciados portugueses emigram para o estrangeiro. As perspetivas de encontrarem no país um emprego que lhes permita viver são escassas. Muitos emigram também por não conseguirem em Portugal casa acessível.
Esta sangria da geração mais qualificada foi, com razão, classificada de calamidade por Pedro Brinca, economista da New School of Business, em entrevista à Renascença. Este economista calculou os gastos com a formação dos quase 200 mil licenciados que emigraram entre 2000 e 2019 – cerca de 18 mil milhões de euros, “o que dava para 36 aeroportos do Montijo...”.
É extraordinário que os poderes públicos continuem a assistir tranquilamente a esta calamidade. Sabe-se, por exemplo, que um dos motivos que levam os jovens licenciados a emigrar é a pesada carga fiscal que sobre eles recai.
O Governo promete baixar impostos no Orçamento para 2024. O PSD adiantou-se e apresentou uma série de medidas tendentes a baixar impostos, designadamente o IRS. Com destaque para a redução para um terço dos valores atuais das taxas marginais do IRS para jovens até aos 35 anos, com o máximo de 15% no penúltimo escalão, excetuando os que se encontrem no escalão mais alto.
Logo respondeu o PS acusando o PSD de “monumental cambalhota” (em janeiro do ano passado o PSD tinha falado em baixar o IRS mais tarde). Os críticos socialistas das propostas do PSD poderiam ter reagido dizendo “ainda bem que mudaram de opinião...”
Mas não. Quando se poderia esperar uma congregação de esforços entre várias forças políticas para diminuir uma carga fiscal excessiva sobre o trabalho e sobre os jovens, o PS e o Governo mantêm-se intransigentes, só admitindo a solução (?) deles. Daí as muitas críticas dos socialistas às propostas do PSD.
Percebe-se porquê. O Governo quer afastar o odioso da exagerada carga fiscal e por isso apenas aceita uma descida de impostos vinda do PS. A maioria absoluta permite-lhe esse jogo.
Duvida-se, porém, de que a maioria absoluta sirva para combater o outro problema que leva os jovens licenciados a emigrarem – a falta de casa em condições financeiramente acessíveis. O pacote “Mais habitação” assustou quem poderia contribuir para aumentar a oferta de habitações, construindo casas e pondo-as no mercado de arrendamento. É certo que esse pacote já foi suavizado, mas “gato escaldado de água fria tem medo”.
Francisco Sarsfield Cabral