08 jan, 2025
O ano de 2025 não parece estar a trazer qualquer alívio para os palestinianos que se encontram em Gaza. Pelo contrário, deputados israelitas de extrema direita apelam a que sejam destruídas todas as fontes de água, alimentos e energia no Norte de Gaza. As forças armadas israelitas já mataram mais de 45 mil civis naquele território, mas não eliminaram o grupo terrorista Hamas, por isso as perspetivas apontam para mais mortes de civis, não menos.
Ao primeiro ministro de Israel, Netanyahu, convém a guerra para se manter no poder. E a libertação dos reféns nas mãos do Hamas não é, certamente, uma prioridade para ele. Há alguns anos atrás Israel assistiu a grandes manifestações contra Netanyahu, mas agora Gaza não suscita protestos em Israel.
A sociedade israelita não se tem oposto publicamente à condução das operações militares em Gaza que tantas mortes provoca em palestinianos que não são terroristas. Israel pretende ser uma democracia, mas os valores democráticos estão a ser ignorados no que toca a Gaza. Como explicar a passividade da opinião pública em Israel perante a tragédia de Gaza?
Numa entrevista ao último número da revista Études (dos jesuítas franceses) o professor e presidente do Instituto de Investigação e Estudos Mediterrâneo-Médio Oriente avança uma explicação terrível. Diz ele que a sociedade israelita não quer saber o que se passa em Gaza.
As sondagens mostram que os palestinianos “não existem” para os israelitas. E por parte de dirigentes políticos em Israel os palestinianos são frequentemente considerados “animais, a quem importa cortar a água para tornar não habitável o território de Gaza”. Assim, aquilo que é, indiscutivelmente, um desastre humanitário “não toca a sociedade israelita”.
Os judeus foram desumanizados pelos nazis alemães e assassinados por eles como quem mata insetos. Ou seja, os judeus tiveram essa experiência tremenda, mas agora são eles quem ignora deliberadamente “o outro”, o palestiniano, que é desumanizado e tornado invisível. É esta, porventura, a dimensão mais trágica da tragédia de Gaza.