31 jan, 2025
O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, esteve em Lisboa a lembrar aos portugueses que não basta gastar na defesa 2% do PIB, é preciso gastar mais. O Governo parece ter receio de falar neste imperativo; apenas repete que o Estado social será salvaguardado. Fica, assim, a impressão de que, para o Governo, não existem motivos sérios para um esforço importante no setor da defesa.
Ou seja, o primeiro ministro Luís Montenegro fala como se não existisse uma ameaça potencial vinda da Rússia, ou não fosse o presidente Trump uma personalidade que não se caracteriza por valorizar a NATO. Mas Mark Rutte adiantou-se e alertou para os perigos da Rússia, que ele considera mais próximos do que os portugueses imaginam.
Mark Rutte concretizou com aquilo que parece ser um ponto fraco na defesa que cabe a Portugal no quadro da NATO: navios e aviões russos ameaçam a costa portuguesa. “A ameaça da Rússia pode parecer longínqua, mas asseguro-vos que não é”, sublinhou M. Rutte.
Os portugueses têm vivido como se aquelas ameaças e outras semelhantes não fossem reais. Talvez por recear que lhe chamem “belicista”, o primeiro ministro Montenegro evita mostrar aos portugueses uma realidade incómoda, persistindo numa visão cor-de-rosa, quando as relações internacionais são hoje muito pouco tranquilizadoras.
O problema político que esta ocultação da realidade suscita está em que, se e quando, as ameaças à NATO se tornarem óbvias para toda a gente, será então muito problemático avançar com medidas de defesa credíveis. Viver longe dos conflitos reais e potenciais que afetam a Europa não garante tranquilidade nenhuma.
Por isso se torna urgente falar com realismo à opinião pública nacional, que permanece alheia aos reais perigos que ameaçam o país e a Europa.