Siga-nos no Whatsapp
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

​Falar de defesa com realismo

31 jan, 2025 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Portugal tenta antecipar a concretização da meta de gastar pelo menos 2% do PIB na defesa. Não basta, alertou o secretário-geral da NATO. Importa divulgar as ameaças que justificam gastar mais na defesa.

O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, esteve em Lisboa a lembrar aos portugueses que não basta gastar na defesa 2% do PIB, é preciso gastar mais. O Governo parece ter receio de falar neste imperativo; apenas repete que o Estado social será salvaguardado. Fica, assim, a impressão de que, para o Governo, não existem motivos sérios para um esforço importante no setor da defesa.

Ou seja, o primeiro ministro Luís Montenegro fala como se não existisse uma ameaça potencial vinda da Rússia, ou não fosse o presidente Trump uma personalidade que não se caracteriza por valorizar a NATO. Mas Mark Rutte adiantou-se e alertou para os perigos da Rússia, que ele considera mais próximos do que os portugueses imaginam.

Mark Rutte concretizou com aquilo que parece ser um ponto fraco na defesa que cabe a Portugal no quadro da NATO: navios e aviões russos ameaçam a costa portuguesa. “A ameaça da Rússia pode parecer longínqua, mas asseguro-vos que não é”, sublinhou M. Rutte.

Os portugueses têm vivido como se aquelas ameaças e outras semelhantes não fossem reais. Talvez por recear que lhe chamem “belicista”, o primeiro ministro Montenegro evita mostrar aos portugueses uma realidade incómoda, persistindo numa visão cor-de-rosa, quando as relações internacionais são hoje muito pouco tranquilizadoras.

O problema político que esta ocultação da realidade suscita está em que, se e quando, as ameaças à NATO se tornarem óbvias para toda a gente, será então muito problemático avançar com medidas de defesa credíveis. Viver longe dos conflitos reais e potenciais que afetam a Europa não garante tranquilidade nenhuma.

Por isso se torna urgente falar com realismo à opinião pública nacional, que permanece alheia aos reais perigos que ameaçam o país e a Europa.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • António Costa
    02 fev, 2025 Porto 09:24
    Preparar a guerra contra quem? Quais os objetivos dos inimigos? Medos, a força dos medos, já sem falar das negociatas que se escondem por detrás.
  • Alguns factos
    31 jan, 2025 Sugiro que pensem nisto 14:52
    Bombardeiros russos voam ao largo da nossa Costa a experimentar as nossas defesas aéreas. Navios espiões, reabastecedores e navios de guerra russos tornaram-se "visita habitual" nas nossas aguas. Temos um País e cabos submarinos de importância vital a defender. E para isso temos uma Marinha envelhecida e exígua, completamente insuficiente onde nem sequer 3 fragatas e 1 Submarino em permanência, conseguimos ter. E na Defesa aérea, dependemos de 28 F-16 com 30 anos de uso e em que nem todos voam, pois baterias de misseis anti-aéreos, pura e simplesmente não existem. Montenegro e Marcelo podem andar ambos a tentar passar a mensagem de que Portugal não pode ir além dos 2% sob pena de comprometer o Social, mas pergunto qual o "Social" que haverá, se formos atacados e nada tivermos para nos defender…? Contemos primeiro connosco, antes de contarmos com os outros.
  • Joao Oliveira
    31 jan, 2025 Edimburgo 12:32
    Defesa e muito mais do que ameaças militares convencionais. Portugal tem uma área marítima gigantesca para o tamanho e recursos do pais. Para alem de navios rivais, ha o risco de trafico de drogas, trafico humano, terrorismo e contrabando entrarem pelas aguas Portuguesas. Existem também ameaças cibernéticas, onde partes críticas do funcionamento do pais (energia, hospitais, etc), podem ser paralisadas. O resto do mundo, que tem ambições bem mais belicas que os Europeus estao a modernizar os seus recursos e estão dispostos a usa-los para conseguir os seus fins. A menos que vivamos em um mundo imaginario, e obvio que temos que investir na defesa do pais e do continente (que tanto nos tem financiado ao longo de decadas.
  • Arranque
    31 jan, 2025 E não faça pó 09:44
    Basta pensar que misseis russos, seja lançados por Bombardeiros, ou plataformas mesmo em território russo, demoram poucas horas ou minutos até atingirem Lisboa, totalmente indefesa e sem anti-aéreas credíveis para enfrentar essa ameaça. Então se os misseis forem lançados de submarinos russos ao largo da não vigiada Costa portuguesa, então esses espaço de tempo reduz-se para 5 a 15 minutos. Quem julga que o nosso afastamento geográfico da linha da frente, nos salva, não percebe nada de guerras. O PM está desfasado da Realidade persistindo numas ideias idílicas e cor-de-rosa? Não, não está. Não quer é reconhecer que os 2% não chegam e terá de desembolsar, com vontade ou sem ela, 3% do PIB para a Defesa, é só a NATO concordar e exigir isso. Uma palavra para esse putinista convicto, sempre a apelar ao medo dum conflito nuclear, e a propor a aceitação dos ultimatos de Putin, que dá pelo nome de Viriato Soromenho-Marques... Parece que finalmente foi corrido do DN. Ele que arranque e não faça pó, que faz por cá uma falta como a Fome.