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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Uma “não negociação”

17 fev, 2025 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Nesta negociação com a Rússia as concessões prejudicaram à Ucrânia, que não participou ainda no processo negocial. É uma vitória para Putin. Quanto a Trump, está entusiasmado com a perspetiva de explorar metais raros no solo ucraniano.

No seu estilo fanfarrão, Trump anunciara mais do que uma vez que iria pôr termo à guerra na Ucrânia em menos de 24 horas. Mas passavam as semanas e a paz continuava adiada. Foi então que Trump ligou ao seu amigo Putin e esteve mais de uma hora a falar com ele.

Zelensky bem tinha insistido em que qualquer negociação com a Rússia deveria ter a participação da Ucrânia. Mas Trump adiantou-se. Assim ficou claro que a Ucrânia teria de renunciar ao regresso às suas fronteiras de 2014 (quando a Rússia invadiu a Crimeia) e também teria de desistir de entrar na NATO.

Estas concessões não tiveram contrapartidas em vantagens para a Ucrânia. Pior do que isso, a Ucrânia não poderá exigir essas contrapartidas nas negociações com Putin, que provavelmente serão uma mera fachada – o essencial já foi assente em negociações diretas Trump-Putin.

Os ucranianos sentem-se traídos, naturalmente. Há quem considere estranhas estas negociações, onde as concessões à Rússia são feitas antes de a Ucrânia nelas participar. E recorda-se o trágico caso das concessões feitas a Hitler em 1938, no chamado acordo de Munique, que não evitou, antes precipitou, o início da segunda Guerra Mundial.

Os países europeus também se sentem marginalizados, não obstante António Costa, presidente do Conselho Europeu, salientar que a paz na Ucrânia e a segurança na Europa são inseparáveis. Lembra A. Costa que não haverá uma paz duradoura sem a Ucrânia e sem a União Europeia.

Ainda por cima temos de ouvir o secretário da Defesa dos EUA afirmar que a Europa tem a “sorte de ter o melhor negociador do planeta, Donald Trump”...

Mas Trump está entusiasmado pela perspetiva de explorar metais valiosos nas terras raras da Ucrânia, como pagamento pelas ajudas a esse país. É o que parece interessar-lhe, bem mais do que a paz.

Comentários
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  • ADISAN
    17 fev, 2025 Mealhada 17:20
    Não é nada de novo que Trump apenas procura os seus próprios interesses (America first). Infelizmente, isso poderá vir a provocar uma 3ª. guerra mundial. Putim já sabemos de quanto é capaz (embora chame nazis aos ucraniamos, ele é que procede como tal) e Trump não pensa ficar-se aquém de Putim. Com estes dois senhores à frente das duas maiores potências militares, não podemos esperar nada de bom! Paz justa não estará nos planos quer de um quer de outro!
  • Ir à guerra
    17 fev, 2025 Com o que se tem 12:13
    Nada é simples nesta negociação, mas se o "acordo" é desvantajoso para a Ucrânia como parece ser, o que esta tem de fazer é recusá-lo e apoiar-se na UE e não nos EUA. O resto é ir à guerra com o que têm.