28 fev, 2025
Entre 1921 e 1923 e sobretudo neste último ano, a Alemanha sofreu um surto inflacionário terrível. No seu pico, o preço de um almoço podia subir entre a sopa e a sobremesa.
Esta híper inflação deixou profundas marcas no povo alemão. Muita gente viu então as suas poupanças reduzidas a pó. Os alemães ganharam por isso um forte receio da alta dos preços e da frenética impressão de papel moeda que se registou nessa altura. Há quem considere a híper inflação de 1923 um dos fatores para a ascensão do nazismo.
Foi esse receio da inflação que levou os partidos alemães a inserirem na Constituição, em 2009, uma norma travão para a despesa do Estado. Essa norma colocou um limite ao endividamento do Estado, cujo aumento não poderia ultrapassar num ano o equivalente a 0,35% do Produto Interno Bruto.
Só que a Alemanha debate-se agora com uma recessão económica que leva mais de dois anos, quando são manifestas as necessidades de gastar mais dinheiro público em pelo menos duas áreas: investimentos do Estado para estimular a economia e na defesa, uma vez que os EUA não se mostram decididos em gastar dinheiro na segurança da Europa.
Ultrapassar a norma travão exige uma maioria de dois terços no Bundestag (parlamento federal). Merz, o futuro chanceler, já deu sinais de que gostaria de suspender a norma travão. Só que os deputados democratas cristãos, somados aos deputados socialistas (SPD) na próxima assembleia parlamentar serão a maioria, mas não chegarão aos dois terços de deputados indispensáveis para mexer na norma travão.
Surge, agora, uma possibilidade: aprovar a eliminação da norma travão ainda no parlamento em vigor (o parlamento atual apenas termina o seu mandato a 24 de Março). Aí, a CDU (democratas cristãos) SPD, Verdes e Liberais (que não conseguiram entre no próximo parlamento) têm mais de dois terços dos deputados. Esses quatro partidos terão de concordar em afastar ou alterar a norma travão nas quatro semanas que se seguem.
Mas o sentimento anti inflação ainda está muito vivo nos políticos da Alemanha. Por isso aquela solução poderá não ser aceite. Aguardemos.
Francisco