28 mar, 2025
Acentua-se a polarização entre o PS e o PSD. Porque são partidos com ideologias muito diferentes? Não, pelo contrário, terem uma base ideológica comum incita a um crescendo de animosidade recíproca para fazer a diferença; veja-se, por exemplo, que o principal ataque do PS ao PSD visa a pessoa de Montenegro e a sua honorabilidade.
Os dois maiores partidos portugueses não se distinguem pela ideologia – ambos defendem uma democracia liberal, com uma economia de mercado. Mas a animosidade entre PS e PSD tem vindo a crescer, ameaçando a governabilidade do país.
Pedro Norton dedicou o seu último artigo no Público à questão da governabilidade em Portugal. E aponta dois caminhos para superar esse problema: alterar o sistema eleitoral ou promover uma cultura de compromisso. Julgo que conseguir uma cultura de compromisso político poderá levar gerações. Por isso me parece que a via terá de ser uma alteração no sistema eleitoral.
Como se sabe, o sistema que temos procura a representação proporcional dos eleitos, sacrificando a governabilidade. Esse sistema também dá aos dirigentes dos partidos um grande controle sobre quem é candidato e quem é eleito. Daí resulta que nós, eleitores, nunca sabemos exatamente em quem votamos – mais do que em pessoas, nós assim votamos em partidos. Por isso as direções partidárias são hostis à mudança do sistema eleitoral; está aí o grande obstáculo a essa mudança.
Terá que ser a força da opinião pública a conseguir a alteração do sistema eleitoral. E nem é preciso ir para um regime à inglesa, composto apenas de círculos uninominais. Há soluções menos radicais.
Resta esperar que não sejam necessárias muitas crises políticas para que os dirigentes partidários adiram finalmente a um sistema eleitoral mais propício à governabilidade do país.