17 nov, 2022 • Beatriz Lopes
Para Inês Nogueira, “o telejornal à hora do jantar já foi mais religioso", mas de manhã “o scroll” no telemóvel é sagrado. Para Alexandre Guimarães o melhor telejornal é o da RTP2, “conciso e assertivo” porque não faz sentido vermos telejornais de hora e meia “quando sempre que chove é notícia: - claro que chove. É Inverno!”. Já Teresa Oliveira considera que os telejornais portugueses estão a caminhar “para um sítio inovador”, mas admite que tem de “estar no mood” para ler notícias “demasiado longas”.
Pelo menos num ponto, os animadores da manhã da Mega Hits estão sintonizados: “tudo acontece à velocidade da luz” e os média têm de ser “mais apelativos” para atrair a atenção dos mais novos.
No Geração Z desta semana, falamos sobre a relação dos jovens com os média. As redes sociais passaram a ser o principal veículo de consumo de informação? Instalar no telemóvel aplicações de meios de comunicação é útil ou não compensa receber notificações constantes? A conjugação da informação com o entretenimento é o único caminho a seguir? Se as rádios com maior audiência são as que têm menos notícias, de que forma educamos o target? Os jovens já não querem saber do que se passa na política?
"Há certos temas da esfera pública que são como as papilas gustativas", diz Alexandre Guimarães. "Uma pessoa não nasce a gostar de café e de cerveja. São os sabores mais complicados. Um jovem pode não amar política e não é o fim do mundo. Acho que lentamente pode criar os seus hábitos. E é importante estar atento à situação política. Muitas vezes diz-se: 'não vou ler essa notícia para não ficar ansioso'. Tenho uma opinião contrária: fico ansioso se não souber o que se passa no mundo.”
As palavras de Alexandre poderiam ser uma indireta - embora de forma não assumida - para Inês que admite que assim que começou a guerra na Ucrânia eliminou a única aplicação que tinha instalada: "Aquilo estava a consumir-me. Acordava todos os dias com as notificações". Para Inês, há outras formas "mais ligeiras" de atrair os jovens para o mundo das notícias e é esse o caminho que a Mega Hits tem procurado seguir: "Quem ouve as Trending News consegue ir ter depois com um grupo de amigos e discutir o que está a marcar a atualidade", sublinha.
De acordo com o mais recente Reuters Digital News Report (DNR), do Reuters Institute for the Study of Journalism, 39% dos jovens entre os 18 e 24 anos utilizam como fonte principal de notícias as redes sociais. Um estudo do Pew Research Center detalha que o TikTok é a única plataforma em que o consumo de notícias está a aumentar dramaticamente entre as gerações mais jovens. Mas usar Tik-Tok tira credibilidade às notícias?
Depende dos interlocutores, sublinha Alexandre Guimarães. "Claro que se for o 'Dioguinho' [site sobre a vida dos famosos] a fazer um vídeo e a falar-me da questão do Irão, não sei se será o melhor meio para me informar. Se for uma Renascença ou uma CNN, um meio em que confio, eu consumo."
Teresa Oliveira sublinha que o Tik-Tok já não se resume "a dancinhas" e reforça também a importância de rejuvenescer os painéis de debate nos telejornais. "Faz falta um programa que toda a gente visse: com um psiquiatra da nossa idade, com uma pessoa de finanças da nossa idade, com todos nós a discutirmos aquilo que discutimos quando nos juntamos num jantar".
Tudo depende da maneira como a informação é apresentada, sublinha a animadora da Mega Hits. "Costumo pensar em nós hoje em dia como se trabalhássemos todos em Wall Street: com imensas coisas a cair, todas diferentes." E explica: "O nosso telemóvel é onde passamos grande parte do nosso tempo diário. Portanto, se tivermos aquilo que gostamos de ver de uma forma apelativa, acho que isso também pode mudar a forma como consumimos os temas".