06 jan, 2025 • Sérgio Costa , Olímpia Mairos
O comentador da Renascença Henrique Raposo diz que “a Segurança Social está a engonhar” e a adiar o problema em Santa Iria da Azóia onde permanecem cerca de 100 pessoas, em habitações precárias.
A ajuda do Estado passa por pagar a primeira renda de uma casa, mas isto não é solução, “é adiar o problema tal como a Câmara Municipal está a adiar o problema”, assinala Raposo.
O comentador alerta que “estes fenómenos - novos bairros de lata ou bairros clandestinos - vão crescer, porque não há outra solução”.
“Há poucos anos nós dizíamos a brincar aqui em Lisboa - era uma piada comum -, que qualquer dia começamos a alugar as marquises e fazer alguns trocos. A piada, hoje em dia, é realidade”, assinala, tal como denunciado pela presidente da Sociedade de São Vicente de Paulo, Fernanda Capitão, à Renascença.
“Não há outra solução, porque não há casas”, insiste Raposo, lembrando que este é o lado mau de algo que considera “profundamente positivo” e que tem a ver com o crescimento de Portugal.
“Portugal está literalmente a crescer. Nós nunca tivemos tanta gente. Nos últimos cinco anos, Portugal cresceu quase meio milhão de pessoas. Eu acho isto maravilhoso. Tem este lado negro”, destaca.
No seu espaço de comentário n’As Três da Manhã, Raposo diz ainda que isto faz lembrar a vinda dos retornados.
“Foram 700 mil pessoas. Estamos a falar de 500 mil novas pessoas em Portugal agora, e vai crescer. Claro que os retornados ao voltarem iam para casas de família. Estas pessoas não têm família e precisam de uma casa nova. Mas essas casas não existem”, observa.
Questionado sobre se o país não se prepara para aquilo que quer, o comentador diz que “não se está a preparar”, insistindo que “nós precisamos dos imigrantes para a economia continuar e até para fazer novas casas”.
“Mas eles para fazerem as novas casas vão ter que viver em barracas. É um paradoxo”, atira.
Para resolver esse paradoxo, o comentador lembra algo - que diz - raramente é salientado por toda a gente, quer pelos partidos, quer pelos agentes do mercado.
“Em Portugal há 723 mil casas. Eu vou repetir 723 mil casas por ocupar. Estão feitas, podem ser ocupadas. Só na Grande Lisboa são 150 mil casas que estão por ocupar”, aponta.
“E eu pergunto: Porquê? Primeiro, porque não se fala disto? E porque que isto não é resolvido?”, questiona, assinalando que “é como a questão dos incêndios… Não sabemos bem de quem são os terrenos. Aqui há algo parecido”.
O comentador diz que “isto não é só nos subúrbios”, afirmando que vive num dos melhores bairros de Lisboa e vê “claramente que há dezenas ou centenas de casas que estão por ocupar”.
“A propriedade privada é sagrada. Mas é dever da coisa pública, da República, ir lá bater à porta: Desculpe lá… porquê que não tem isto no mercado?”, conclui.