10 fev, 2025 • André Rodrigues , Olímpia Mairos
O comentador da Renascença Henrique Raposo considera que provas digitais são “uma teimosia inacreditável do anterior Governo e, agora, deste”.
Apesar de o Executivo garantir que está tudo a postos para que os alunos dos 4.º, 6.º e 9.º anos realizem as provas em formato digital, Raposo está convicto de que “não está nada a postos” e dá o exemplo do que acontece na sua família.
“Por experiência, eu e a Ana trabalhamos com computadores de vários tipos, de vários softwares, vários backoffices, e não sabemos lidar com aquilo à primeira vez”, diz, assinalando que “é preciso treinar, ver como é que aquilo funciona”.
“Os computadores são superlentos, em primeiro lugar, e usam um software que ninguém usa. É um software livre, gratuito, e, portanto, não é o software que normalmente nós usamos nos nossos computadores”, acrescenta.
No seu espaço de comentário n’As Três da Manhã, Henrique Raposo alerta ainda que “os pais, para além de tudo aquilo que têm em cima, têm que passar estas semanas a ver se as atualizações estão feitas, onde é que se grava, como é que se grava, etc.”.
“É um desastre. E a minha atitude tem sido sempre a mesma: Se não conseguires fazer, não fazes, não há problema. Há um boicote implícito. E garanto que, da parte das professoras, têm a mesma atitude, não podem é dizê-lo”, observa.
Na visão do comentador, o que está aqui em causa é, de novo, um problema que “é estrutural no Estado português” - “é a desconfiança em relação a quem está no terreno. Em relação às escolas, em relação às professoras: não lhes dão liberdade, e é, até, uma desconfiança do seu trabalho”, aponta.
Num quadro mais geral, Raposo avisa que “estamos a insistir num erro que todos os outros países estão a desfazer” e dá o exemplo da Suécia, “um país que está sempre no topo, porque testa, se resultar, avança, se não resultar, recua. Não tem problemas, é muito pragmático”.
“Avançaram há anos para os computadores nas escolas, os tablets. O que é que descobriram? É um desastre pedagógico. E recuaram”, diz.
Por fim, e em contraste, Raposo dá o exemplo dos Estados Unidos, onde os miúdos que têm agora entre os 5 os 15 anos já não sabem escrever à mão, já não sabem ler um texto escrito à mão.
“Além de ser, a meu ver, um retrocesso, estão a ter uma queda abrupta nos resultados escolares”, diz o comentador que entende que, para se ser engenheiro e fazer um tablet quando se for crescido, “convém não passar a vida do lado do ecrã como mero consumidor”.