11 fev, 2025 • André Rodrigues , Olímpia Mairos
O comentador da Renascença João Duque diz que o Índice de Perceção da Corrupção em Portugal “é preocupante, porque a base sobre a qual se constrói este indicador são homens e mulheres de negócios”.
“São pessoas que estão habitualmente sensíveis a este tema particularmente, quando este tema influencia as decisões de investimento, local ou internacional. E, portanto, Portugal é um país que precisa de capital, precisa de atrair capital estrangeiro, e este tipo de indicadores - que são feitos internacionalmente e, portanto, aqui são comparáveis internacionalmente - não ajuda aquilo que é a atração do investimento estrangeiro”, aponta.
O relatório que analisa o Índice de Perceção da Corrupção em 2024 revela que Portugal caiu quatro pontos e passa da 34.ª posição para a 43.ª, entre 180 países. É o pior Índice de Perceção da Corrupção de sempre para Portugal, desde que foi criado em 2012.
Na visão do comentador, isto deve-se a dois fatores: Primeiro, porque os envolvidos em casos não se afastam imediatamente dos cargos. Segundo, porque aceitam até, em primeiro lugar, ir para cargos de governo, quando, às vezes, já estão, digamos assim, constituídos arguidos ou são alvos de investigação ou processo e, portanto, isto, mais cedo ou mais tarde, acabará por ter um impacto na sua vida pública”.
“E estamos a falar de um índice de corrupção que particularmente é desfavorável a Portugal, por causa da sensação, lá está, de que há corrupção nos cargos públicos”, aponta.
Admitindo que há uma série de problemas estruturais que estão identificados, João Duque admite que a corrupção é um fenómeno muito difícil e “é difícil em países aparentemente pequenininhos, onde as pessoas se conhecem todas”.
“Há uma grande dependência, um ‘network’ de amizade que acaba, por vezes, por ser pequena corrupção até sem contrapartida”, assinala, destacando, no entanto, que “a grande corrupção é a mais preocupante e é aquela que, infelizmente, depois, salta para os jornais amiúde, quando nós vemos, depois, as pessoas a tomarem posse, porque são essas pessoas que são alvo de atenção e, depois, são mantidas nos cargos”.
“Elas mantêm-se e os governantes mantêm-nas nos cargos, até que a justiça acabe por tomar uma decisão”, diz, considerando que isso “é muito negativo para a criação de uma imagem de um país que não pode ser governado por pessoas que, infelizmente, pela demora da justiça, acabam por ser mais prejudicadas do que deviam”.
Por isso, Duque defende que “uma vez constituídos arguidos dos casos, convinha que a justiça rapidamente esclarecesse se são ou não culpados dos casos que são acusados e depois de julgados assumirem a sua vida normal”.