22 abr, 2025 • Sérgio Costa , Olímpia Mairos
“O homem acima de tudo, mas o homem, tal como ele é, despojado e simples, e percebermos que, no fundo, nascemos iguais e vamos morrer iguais”. É esta a lição que, na visão do comentador da Renascença João Duque, o Papa Francisco deixa aos economistas.
Para o professor universitário, a economia de Francisco faz-nos “recordar um princípio muito importante: a economia não serve para dar emprego aos economistas, que é uma piada que se costuma dizer na profissão. Não, não serve para isso. A economia é um instrumento da felicidade humana e do bem-estar”.
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A economia serve para o bem comum e “é para isso que se deve estudar e desenvolver todas as técnicas e tudo aquilo que é conhecimento ao serviço do reconhecimento das leis de comportamento e dos estímulos para ajuda à decisão económica, ou individual, ou até empresarial, portanto, quando digo económica, mais no sentido governamental ou autárquica, depende da dimensão do impacto das decisões”, observa Duque.
O comentador destaca que “é preciso percebermos que o fim, o último, não é o da decisão, mas é o impacto que essa decisão tem e ela deve estar ao serviço do homem do seu desenvolvimento, que isto é do bem-estar e do bem coletivo. Isto é muito importante, é pôr o homem acima daquilo que é, aparentemente, o interesse da ciência”.
Segundo João Duque, Francisco foi muito crítico em relação ao “endeusamento daquilo que é a figura de instrumentos, nomeadamente as finanças ou os mercados, que são, muitas vezes, endeusados como o alfa e o ômega daquilo que é a atividade económica dos economistas”.
“O que ele diz é que nós não nos devemos submeter ao endeusamento desse tipo de instrumentos, eles não são um fim em si mesmo, eles devem estar ao serviço daquilo que é o desenvolvimento humano e o bem-estar”, recorda.
No seu espaço de comentário n’As Três da Manhã, João Duque lembra que o Papa chamou várias vezes à atenção que “os mercados, por si só, por exemplo, não se autorregulam, não criam a equidade e aproximação do rendimento dos homens, mas tendem, muitas vezes, a afastá-los e isso é contrário àquilo que deveria ser a filosofia cristã e católica”.
“Ele [Francisco] chama constantemente a atenção para isso, às vezes com palavras mais fortes e outras menos, mas há frases muito fortes e sobre estes mercados, por exemplo, ele diz que não é notícia a morte de um idoso que morre sem teto e ao frio na rua, mas é notícia a descida de dois pontos do índice da bolsa”.
O economista salienta ainda que esse facto “é uma coisa impressionante; se bem que uma descida de dois pontos do índice da bolsa americana representa uma perda de valor de 18 mil milhões de dólares”.
“É colossal. E isto poderia ajudar muita gente a sair da miséria extrema, muitos milhões de pessoas; podíamos ajudar muitos milhões de pessoas, se fosse esta descida evitada para ser canalizada para outro fim. No fundo, para chamar a atenção que, num índice de mais de 5 mil pontos, dois pontinhos podiam fazer a diferença para tanta gente e não fazia diferença nenhuma”, completa.