17 mar, 2025 • João Pedro Tavares
O Papa Francisco lançou o desafio para um mundo que seja mais fraterno e em que cada um seja mais próximo, em particular dos mais frágeis. Poderemos sonhar com isso?
As histórias tocam e são sinais de esperança. Um Padre Jesuíta sonhou que é possível inverter os critérios do estrito mérito e se pudesse abrir o mercado de trabalho aos mais vulneráveis, aos que, à partida, são excluídos e descartados.
E assim nasceu o “Mercado de Trabalho Fratelli Tutti”, uma rede colaborativa que identifica pessoas com o desejo de trabalhar — um ponto de partida essencial, baseado na responsabilidade e no compromisso pessoal — e mobiliza diversas entidades e indivíduos dispostos a acompanhar e avaliar cada caso.
É um caminho estreito, de semear, de tocar, de acompanhar, mas de enorme esperança. Um caminho em sentido inverso ao que normalmente se traça, que busca, numa competição pelo melhor e mais bem preparado talento, mas em que existe a disponibilidade de ensaiar novas abordagens. Nem sempre os resultados são imediatos, nem sempre se chega a bom porto. Também na ausência de resultados se deve perseverar, ensaiar maior paciência. Mas a essência é semear e não desistir, mas caminhar com esperança. Temos sido tocados por pessoas que vivem o seu trabalho como uma nobre vocação e que olham para lá dos resultados imediatos e da maximização do resultado financeiro.
Como diz o Papa, cabeça, coração e as mãos devem trabalhar em conjunto para a justiça e a paz, para acolher e promover. A mobilização desta rede de bem comum, de disponibilidade, toca empregadores e empregados, capacitadores e mobilizadores. Uns colocam os seus talentos, capacidades e experiências ao serviço do outro. Outros alargam os seus critérios e capacidade de decisão para acolherem o menos óbvio. Se a finalidade é promover o regresso ao mercado de trabalho, no caminho recolhem-se outros frutos e aprendizagens. Como critério, o tempo é mais importante que o espaço. Ou seja, o processo que promove o caminho, que sabe esperar, e que aponta a uma visão de mais longo prazo, sobrepõe-se à tática e à busca de resultados imediatos. E, desta forma, somos construtores da esperança.
Um mundo Fratelli Tutti é um mundo com maior proximidade, de atenção ao outro, com disponibilidade para promover a paz. A guerra, pelo contrário, é o resultado dos desistentes do diálogo, do bem maior, do que é comum, dos que não souberam ser pacientes, dos que se querem impor à força, não respeitando os outros. Na maioria das vezes não é um sinal de força, mas de enorme fraqueza.
De facto, não há soluções, mas caminhos. E este é um deles.
João Pedro Tavares, presidente da UNIAPAC desde fevereiro