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João Pedro Tavares
Opinião de João Pedro Tavares
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Os critérios de Francisco

23 abr, 2025 • João Pedro Tavares • Opinião de João Pedro Tavares


Francisco foi um Papa que não teve medo de ir ao fundo dos temas, económicos, sociais e ecológicos, para além dos espirituais, e que se distinguiu como promotor de uma economia inclusiva, de encontro, de unidade, de diálogo, de cuidado. Uma economia que cura e que une.

Esta Páscoa fomos surpreendidos com a partida, a passagem (a Páscoa) do Papa Francisco. Não que fosse algo totalmente inesperado, mas uma inquietação que não queríamos esperar. Tem-se lido muitos testemunhos marcantes de uma vida que não foi em vão. Para o colocar no lugar certo, partiu o líder mais marcante do tempo presente. O peregrino da Esperança, também ele, um príncipe da Paz.

Levo para o caminho muitas reflexões, encíclicas, discursos, princípios como os da “Economia de Francisco” e ainda critérios, que procuro aplicar na vida pessoal e profissional, pela sua simplicidade, pela clareza, por serem guia.

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Francisco foi um Papa que não teve medo de ir ao fundo dos temas, económicos, sociais e ecológicos, para além dos espirituais, e que se distinguiu como promotor de uma economia inclusiva, de encontro, de unidade, de diálogo, de cuidado. Uma economia que cura e que une.

Por tudo isto e com um enorme sentido prático, sugere-nos critérios para o caminho que deveremos adotar no modo de ver, julgar e agir, referindo, como proposta para o mesmo que o tempo, a unidade, a realidade e o todo se sobrepõem ao espaço, ao conflito, à ideia ou à parte (vide encíclica do Papa ‘Evangelii Gaudium’):

  • O tempo é superior ao espaço. A estratégia sobrepõe-se à tática; o apropriado, a visão e o propósito último sobrepõem-se ao imediato, ao conveniente, ao imediato mais fácil. Ou ainda, a liderança serve para servir, para cuidar, com foco no outro e não no próprio. A solidariedade exige olhar para entender, parar para atender, cuidar para dignificar. A subsidiariedade é mais importante que o auto-interesse.
  • A unidade prevalece sobre o conflito. Podemos promover a diversidade de opiniões e visões, mas alicerçada sempre na convergência de objetivos em prol do bem comum, o bem maior. Ouvir e escutar o outro como caminho para a unidade, apesar da diferença, exige humildade e capacidade para aceitar essa diferença. Terminar no conflito e ficar satisfeito com o resultado, como se de uma vitória se tratasse, é pobre pois a unidade é sempre mais edificante do que o conflito e é construída entre as partes;
  • A realidade é mais importante do que a ideia. O caminho tem de ser objetivo e atender à realidade. A ação é mais importante do que o relatório. Ficar pelo diagnóstico sem consequência é estéril, pois a especificidade da necessidade precisa de ser atendida. Por outro lado, conhecer a realidade exige proximidade, cuidado, serviço. O mundo não avança, apenas e só, com ideias que são importantes e determinantes, mas que não podem ser inconsequentes. A Economia do Cuidado é do serviço, da proximidade, do envolvimento, do estar próximo. É a economia do samaritano que é válida para uma ONG ou para uma empresa de igual modo. O erro é pensar-se que é absolutamente distinta e que uma realidade não tem a ver com a outra. Pelo contrário, são duas faces de uma mesma moeda, dois olhares de uma mesma realidade e não de realidades diferenciadas. Não é responsabilidade de alguém, de outrem, mas é pessoal. É vivência na primeira pessoa. A solidariedade tem nome e não vive de forma anónima;
  • O todo é superior à parte. É a busca da missão, do propósito, do bem maior, do bem comum. Exige desprendimento, pois baseia-se na premissa de que estou disposto a ter menos, enquanto uma das partes, para que o todo possa beneficiar. É altruísmo vivido com autenticidade, é desprendimento sobre o próprio interesse, é liberdade interior. Complementa e alavanca os outros critérios.

Estes critérios não são o caminho mais fácil, mas a sua interiorização e vivência tornam qualquer modelo mais pleno, consequente e virtuoso. Esta é uma missão que se cumpre do nosso lado, em cada um de nós. Não esperemos pelos “outros”. Não sejamos assistentes, mas protagonistas. Nada foi em vão, querido Papa Francisco. A bola ficou do nosso lado.


João Pedro Tavares, presidente da UNIAPAC Europa

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