28 mar, 2025 • José Luís Ramos Pinheiro
As empresas são frequentemente desvalorizadas, enquanto fatores de agregação da sociedade.
Por razões ideológicas, historicamente conhecidas, as empresas foram, durante muito tempo, genericamente declaradas como inimigas do povo.
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Claro que nem todas as empresas são iguais, no melhor ou no pior que praticam. E ninguém pode ignorar casos, no passado ou no presente, de manifesta exploração de pessoas.
As más práticas que desumanizam as pessoas e o seu local de trabalho devem ser acauteladas pela lei e por uma fiscalização eficaz. Não por uma fiscalização abusiva e totalitária que persegue e não previne, mas por uma atuação equilibrada que tenha em vista direitos e deveres, assim como as finalidades sociais das empresas.
De resto, as empresas são para muitas pessoas uma segunda família e nalguns casos, infelizmente, a primeira. E constituem fator insubstituível de socialização e de realização humana e profissional.
Porque não há empresas sem pessoas, a obrigação dos gestores é assumirem a liderança como um serviço que tem em conta as pessoas e a sua plena realização.
Confunde-se frequentemente liderança com poder, mas o poder da liderança está em servir a empresa e os seus colaboradores, harmonizando vontades, recursos e competências para concretizar a finalidade específica da organização.
Não se trata de mero poder desenhado à medida das vontades de um ‘chefe’ alegadamente omnisciente, mas antes de uma liderança que se sabe rodear dos melhores e de quem, pela sua especialização e conhecimento, consegue trazer valor acrescentado ao trabalho de todos.
Humildade não é fraqueza, mas virtude, por isso dar espaço ao talento individual - tantas vezes inesperado, mas criativo e eficaz - é uma das vocações essenciais dos líderes empresariais. Essa descoberta e abertura às capacidades do outro permite às empresas fazer coisas novas ou fazer coisas antigas de modo novo.
Isso não significa que haja sempre boas notícias para dar. E é nas crises que os líderes das empresas também se afirmam pela sua presença, constância e equilíbrio, sobretudo em tempos desequilibrados.
Entrevista a João Pedro Tavares
Em entrevista à Renascença, por ocasião do Congres(...)
Neste momento, os mercados e a economia vivem uma fase de enorme incerteza. As ruturas políticas e económicas norte-americanas estão a mexer com grande parte do mundo, designadamente com a Europa.
Esta semana, a União Europeia que se constituiu para assegurar a paz no velho continente, apelou aos seus cidadãos para que se previnam com kits de sobrevivência para fazer face a calamidades, guerras ou eventos inesperados e inéditos.
Dito de outro modo, incertezas deste calibre representam a insegurança de milhões de pessoas que receiam pelos seus postos de trabalho e pelo equilíbrio das suas vidas e das sociedades em que vivem.
Perante orientações nacionalistas, baseadas em tarifas que pretendem arruinar as empresas de capital não americano e que parecem ressuscitar o ‘mercantilismo’ de há uns séculos atrás, importa que as empresas e os países assim atingidos repensem prioridades, mercados e tarefas.
E, ponto importante, sem repetir erros alheios, designadamente quando as empresas supostamente privadas (veja-se, atualmente, o caso da Tesla) se confundem com o Estado e dele dependem para atingir os seus resultados.
O dirigismo estatal – seja ele de inspiração marxista ou de impulso ‘trumpista’ – é sempre mau conselheiro.
Empresas saudáveis, e por isso independentes, que escapam ao controle do poder nunca agradam - nunca agradaram! - a regime totalitários, sejam eles de extrema-esquerda ou de extrema-direita.
Ainda que sujeitas a novas necessidades e até a riscos acrescidos, as empresas devem ser vistas, pelos empresários e pelos trabalhadores, como resíduos de esperança e de resiliência.
Construtores da esperança é de resto o tema do congresso da ACEGE que agrega empresários e gestores cristãos e que se realiza este fim de semana em Lisboa.
Estando a decorrer o jubileu da Esperança o tema parece óbvio, mas o contexto global torna-o obrigatório. Porque sem esperança não há empresas saudáveis e sem empresas saudáveis não há sociedades felizes e equilibradas.
Vistas deste modo, as empresas podem ser também um dos melhores kits de sobrevivência para os tempos atuais, se não perderem o rumo e se forem capazes de sonhar e ver mais longe.
Há ciclos difíceis, mas percorrê-los sem esperança não afasta o problema. Pelo contrário: só o agrava.