07 mar, 2025 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo
Morreu António José Saraiva (6). Foi diretor do Expresso, fundador do Sol. Figura controversa por vezes - o livro “Eu e os políticos” é um exemplo de algum desalinhamento -, deixa uma marca no Expresso e saudade no jornalismo português.
“Da minha língua vê-se o mundo”, o tema escolhido pelo jornal Público para celebrar o seu 35º aniversário. A iniciativa juntou autores, investigadores e decisores para refletirem sobre o português no mundo, nos media, na economia e nas artes. Diretor por um dia, Gregório Duvivier, introduz em editorial palavras raras, como “esculacho, furdunço, esculhambar”. O humorista brasileiro e Kalaf Epalanga, músico e escritor angolano, fazem uma viagem irrecusável através de palavras produzidas pela interseção entre África e Brasil, conduzida pelas portuguesas Alexandra Prado Coelho e Isabel Coutinho.
A RTP decidiu fazer a transmissão da cerimónia da atribuição dos Óscares da Academia de Hollywood sem o ruído da tradução simultânea, quase sempre encanitante. Uma opção corajosa que deu mais brilho e elegância à gestão equilibrada e contida de Mário Augusto. A maioria dos portugueses não fala inglês? Mas o serviço público não é também para minorias?
O plano de insolvência da proprietária da Visão e da Exame, entre outros títulos, prevê o encerramento de algumas publicações ainda em atividade, a redução dos recursos humanos e do espaço físico das instalações, de acordo com a nova realidade, e que o acionista único, Luís Delgado, injete um milhão e meio de euros na empresa. O trabalho desenvolvido pelas diferentes equipas, designadamente a da Visão, merece o esforço. Tenhamos esperança.
Para lá das sucessivas manchetes do CM, a primeira página do Expresso (sexta, 28) desencadeou um verdadeiro tsunami político: comunicação ao país do primeiro-ministro; ameaça de moção de confiança; discussão da moção de censura do PC; anúncio da moção de confiança do Governo, que o PS chumbará.
O imbróglio empresarial de Montenegro vai acabar em eleições antecipadas. Esta quarta-feira (5) no parlamento, na sequência da moção de censura do PC, o primeiro-ministro confirmou a decisão de avançar com uma moção de confiança. O PS já disse que vota contra. O Presidente não perdeu tempo a dizer que convocaria os partidos para o dia seguinte à votação da moção do Governo (11) e, logo a seguir, reuniria o Conselho de Estado. E já avançou datas possíveis para as legislativas.
As sexta-feiras do (jornal) Independente não parecem assim tão distantes. Produziam verdadeiro pânico em S. Bento. Agora, como no caso recente, com efeitos contundentes. Saúda-se e celebra-se a ação do jornalismo, sem o qual não teria havido “caso Montenegro”. Com os dados disponíveis, parece claro que teremos legislativas em Maio.
O PSD não quer nem ouvir falar na substituição do líder do partido. Terá o primeiro-ministro alguma hipótese de sucesso no atual quadro de desconfiança que se instalou e que será cavalgada pelas oposições? E se a avaliação que a PGR está a fazer a uma denúncia anónima contra Montenegro, levar a algum lado? Como é que o PSD se organiza para a campanha eleitoral?
Zelensky foi emboscado na Casa Branca por Vance e Trump, perante uma muralha de jornalistas, microfones e câmaras de televisão. O Mundo viu a humilhação de que foi vítima. Tratou-se do maior episódio de bullying jamais transmitido em direto. “This is great television”, explicou Trump.
“Um espetáculo para horrorizar o Mundo”, escreveu o Daily Mail na primeira página. “The Fight House”, era o título do The Sun; “Shock and War” proclamava o Mirror.
Lech Walesa foi contundente: o Presidente ucraniano foi submetido “a um interrogatório, como se estivesse perante agentes da polícia política”.
Todos sabemos que estamos a lidar com um rufia, um bully. Mas ninguém podia imaginar que se desse ali, na Sala Oval, o fim da diplomacia. Nem nos sonhos mais delirantes, Putin podia esperar melhor.
Esta terça-feira (4)Donald Trump fez um discurso de mais de hora e meia na sua primeira aparição perante o Congresso. Reafirmou, sem reservas, as bandeiras da sua administração: guerra comercial; posse da Gronelândia “de uma maneira ou de outra”, i.e. a bem ou a mal; combate à imigração.
Aparentemente, no combate político a Trump, o que resta aos Democratas é erguer umas tabuletas com a inscrição “Falso”, como se viu no Congresso. O que diria Tocquevile sobre a democracia desta América?
A UE e o Reino Unido têm-se desdobrado em reuniões ao mais alto nível. E têm andado depressa. À falta de um novo chanceler em funções, Macron tem liderado todo o processo de discussão de segurança na Europa.
Von Der Leyen anunciou um pacote de 800 mil milhões de euros para turbinar a indústria militar europeia. É muito dinheiro. Mas o dinheiro só não chega. “Encruzilhada histórica”; “rearmar a Europa”; “fazer da Ucrânia um porco-espinho de aço, indigesto para invasores”, são declarações que se ouvem a quase todos os dirigentes europeus. Há um mundo de interrogações em relação à defesa da Europa. Há uma certeza que parece ser entendida por todos: a Europa não pode continuar sentada, à espera do amigo americano.
A interpelação que a realidade de hoje faz à UE, como nunca tinha acontecido no passado, poderá criar condições para iniciar o processo da construção de uma federação de Estados. Serão as adversidades a impelir a União para os Estados Unidos da Europa? A pergunta de Pedro Norton no Público (4) é uma excelente síntese: “o tio da América morreu? E nós, vamos fazer pela vida?”. Será que De Gaulle tinha razão em relação aos EUA?
Nos Grandes Enigmas, o indígena que apareceu na Sala Oval com um casaco azul azeiteiro a perguntar a Zelenski pelo fato, é jornalista ou um provocador contratado por Trump?
Entre o Mundo da Guerra Fria e este, da aliança EUA/Rússia, qual é o mais perigoso?
Na sequência do “caso Montenegro”, a pergunta parece cada vez mais óbvia: para que serve a Entidade da Transparência?
O afundamento, esta semana, do navio-escola Polar e o do Índia, descrito por Eça de Queiroz, nas Farpas, parece confirmar que há coisas que não mudam.