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Vidas Invisíveis
Em que situações se pode retirar um filho aos pais? Que mecanismos de ajuda existem? Como melhorar o sistema de prevenção e cuidado? São algumas das questões a debater no Vidas Invisíveis, sobre a realidade do acolhimento de crianças e jovens em risco em Portugal. Este é um podcast Renascença em parceria com a Associação CANDEIA, com produção e apresentação de Ângela Roque, sonorização de Beatriz Garcia e imagem gráfica de Rodrigo Machado
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O estigma de viver numa instituição. “O que é fizeste para ir lá parar?”
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Podcast Vidas Invisíveis

O estigma de viver numa instituição. “O que fizeste para ir lá parar?”

05 mar, 2025 • Ângela Roque


Ainda há muito preconceito em relação às crianças e jovens que vivem em instituições. No segundo episódio do podcast Vidas Invisíveis, sobre a realidade do acolhimento em Portugal, Taciana Mendes, uma jovem acolhida, e Miguel Simões Correia, da associação CANDEIA e do projeto Amigos P’ra Vida, partilham as suas experiências nesta área.

O que sente uma criança retirada à família biológica e colocada em acolhimento residencial? Como é vista pelas outras crianças e pela sociedade? Taciana Mendes, de 20 anos, entrou para uma instituição aos 17, com muitos receios alimentados pelo que lhe diziam.

“Eu não tinha a noção do que é que era o acolhimento, porque só ouvia coisas negativas: ‘se te portares mal vais para uma casa de acolhimento e lá tratam mal os meninos’. O que é mentira!”, conta no podcast Vidas Invisíveis, da Renascença.

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Para a jovem, que agora está já em fase de autonomia, é muito importante desmistificar a realidade das instituições de acolhimento, para que quem está acolhido não tenha medo de o assumir. “O acolhimento tem rosto, e é importante darmos a nossa cara, não é nenhuma vergonha!”.

Miguel Simões Correia é presidente da associação CANDEIA, que apoia com atividades lúdicas e campos de férias cerca de 300 crianças e jovens acolhidos em 40 instituições diferentes. Confirma que para muitos ter sido retirado à família é um estigma.

“Têm vergonha de dizer que estão uma casa de acolhimento, porque a primeira pergunta que ouvem muitas vezes é ‘o que é que fizeste para ir lá parar?’. Ou seja, a criança ou jovem é retirado para sua proteção, mas aos olhos da sociedade é retirado porque fez alguma coisa de mal”.

Numa altura em que o sistema de proteção e cuidado das crianças e jovens em risco está a ser avaliado, Miguel Simões Correia, que também lidera o projeto Amigos P’ra Vida, diz que é preciso apostar mais na prevenção e no apoio às famílias.

“É importante um foco grande no trabalho da parentalidade, na capacitação dos pais, porque as pessoas que não nascem ensinadas e na criação de rede nos contextos mais desfavorecidos”. Espera também que se se criem mais condições para os técnicos que trabalham nesta área. “Na parte específica do acolhimento é preciso dar mais visibilidade e valorizar os técnicos, que estão a rebentar pelas costuras, e dar mais palco a soluções de desinstitucionalização”. No fundo, investir mais nesta área.

Para Taciana Mendes – que foi ajudada pela CANDEIA e hoje é monitora da associação e dos Amigos P’ra Vida - há muita coisa a mudar no sistema de proteção, mas a começar por algum lado, que seja por quem trabalha nas instituições.

“O Estado tem de olhar para o acolhimento enquanto estrutura e também olhar para as pessoas. Porque é difícil! Um técnico que entra para a vida de um jovem, é criada uma ligação, é muito trabalho, são muitas horas, é muito cansativo. É trabalho extraordinário, porque vai para casa e acho que ninguém que trabalhe com o coração e que ama o que faz vai conseguir ter um jovem a pedir ajuda à 1h ou 2h da manhã e desligar o telefone. É importante o Estado português proteger estas pessoas que trabalham na área social e no acolhimento”, sublinha.

Miguel Simões Correia diz que não se pode diabolizar o trabalho que é feito nas instituições, mas espera que a atual campanha nacional de promoção do acolhimento familiar resulte, porque é sempre melhor solução para as crianças.

“Se reparar, nenhum país tem zero por cento de acolhimento residencial. O acolhimento residencial é importante e deve existir, e há casos em que o melhor para a criança é ir para o acolhimento residencial. No entanto, para a maioria das crianças o melhor é ter uma família de acolhimento. Mas é preciso mudar muito as mentalidades até que isto seja um facto assente dentro da promoção e proteção”.

Vidas Invisíveis é um podcast Renascença em parceria com a associação CANDEIA, com novos episódios todas as quartas-feiras.

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