05 fev, 2021 - 10:30
Cristiano Ronaldo nasceu no Funchal a 5 de Fevereiro de 1985. No dia em que completa 36 anos, Bola Branca procurou saber o que pode estar na origem do fenómeno de longevidade que o jogador português representa.
Estreou-se na primeira equipa do Sporting com 17 anos, na época de 2002-2003. Um ano depois chegou ao Manchester United. Após seis épocas em Inglaterra e nove em Espanha, onde se tornou no maior goleador da história do Real Madrid, Cristiano Ronaldo, o jogador de quase todos os recordes, cumpre atualmente a terceira temporada na Juventus.
É a 19ª época consecutiva do jogador português ao mais alto nível com um total de 1042 jogos e 762 golos entre clubes e seleção. Tem 32 títulos coletivos e mais de meia centena de troféus individuais.
Perante estes registos, José Soares, professor catedrático de fisiologia na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, conclui que “Cristiano Ronaldo é um atleta fora de série, aquilo que em inglês se chamaria 'outlier' [alguém que se destaca dos seus semelhantes]".
Um conjunto de condições muito especiais
José Soares trabalhou na seleção no Mundial de 2002, um ano antes da chegada de CR7 à equipa das quinas. Mas não tendo trabalhado com o jogador, tira várias conclusões sobre as condições que fazem de Cristiano Ronaldo um atleta superlativo.
Fidalgo Antunes
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O fisiologista de atletas de alto rendimento começa por destacar, nesta entrevista à Renascença, o fator aleatório da sorte associado às poucas lesões graves que ele tem sofrido ao lado da carreira.
"Relativamente às lesões hoje sabe-se que há uma componente genética na área da prevenção ou da suscetibilidade. Acredito que o Cristiano tenha sido bafejado pela sorte quando se trata de genes relativos a maior ou menor suscetibilidade de lesões, particularmente a lesões dos tecidos moles. A esse nível tem tido os genes do seu lado e alguma sorte porque, às vezes, apesar dos atletas serem robustos, há acidentes nos jogos e lesões graves que é impossível evitar", observa.
José Soares destaca, por outro lado, que Ronaldo, além dessa resistência, mostra também "capacidade de absorver as cargas do ponto de vista mecânico e fisiológico”.
O trabalho extra treino
O trabalho de Cristiano Ronaldo não se resume ao treino no campo com os companheiros e aos jogos. O jogador português é conhecido também pelo treino que executa fora do ambiente de trabalho nos clubes ou na seleção, e isso distingue-o como "um atleta de eleição"
O que um jogador faz extra treino, a nível de preparação física, tem uma importância "decisiva no prolongamento da sua longevidade, enquanto atleta de alto nível".
"O Cristiano Ronaldo tem de ser visto como um atleta excecional que sai fora da norma. E como sai fora da norma tem de ter uma interpretação diferente da que se faz para os outros. Reúne nele próprio todas as características que beneficiam uma performance de alto nível muito prolongada no tempo e que é multifatorial”, complementa José Soares.
O sono como fator essencial
José Soares acredita que o sono é também determinante na capacidade de recuperação de Cristiano Ronaldo e no elevado rendimento do jogador.
“Percebe-se muito bem que tem meios de recuperação que os aplica como forma não só de preservar o corpo, mas como de acelerar a recuperação, estando disponível para treinar mais rapidamente e conseguindo uma performance maior. E há dois aspetos como a alimentação e o sono que hoje sabemos ter um papel decisivo. Mas só consegue dormir bem quem recupera bem. E quem recupera bem só o faz porque dorme bem", diz.
O fisiologista tem a convicção de que Ronaldo "tem estratégias para conseguir um sono retemperador".
"Por exemplo, após um jogo intenso, com um elevadíssimo stress fisiológico, qualquer um dos mortais dentro da normalidade fica com um sono mais perturbado. Cristiano Ronaldo, muito provavelmente, consegue abstrair-se disso, dormir e regenerar. Se tivesse que ponderar o papel da alimentação e o papel do sono eu privilegiaria o papel do sono e da recuperação como os aspetos essenciais dos atletas de elevadíssima performance como o Cristiano Ronaldo”, detalha o professor catedrático de fisiologia.