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Euro2024

"Antes de tudo, somos cidadãos". No Euro 2024, os jogadores da seleção francesa também fazem política

17 jun, 2024 - 12:50 • Inês Braga Sampaio

Kylian Mbappé, Marcus Thuram, Ousmane Dembélé, Benjamin Pavard e Olivier Giroud fizeram apelo ao voto nas legislativas, nos últimos dias, e dois deles mostraram-se preocupados com o crescimento da extrema-direita no país.

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Kylian Mbappé, Marcus Thuram, Ousmane Dembélé, Benjamin Pavard e Olivier Giroud podem ainda não saber se estarão no primeiro onze inicial da seleção francesa no Euro 2024, no entanto, há uma equipa de que já se fizeram titulares: a do apelo ao voto em França.

Vivem-se tempos de grande polarização política em França e em grande parte da Europa. A vitória do partido de extrema-direita francês União Nacional (RN) nas Europeias, no dia 9 de junho, que levou o presidente Emmanuel Macron a convocar eleições legislativas antecipadas, veio acompanhada de uma taxa de abstenção de quase 48,51%.

Questionados pela imprensa francesa sobre o assunto, os cinco jogadores apelaram aos franceses que se desloquem em massa às urnas, a 30 de junho e 7 de julho, para as primeira e segunda voltas das legislativas

"Se eu tenho um conselho a dar, é que vão votar. A abstenção de quase 50% não é normal", afirmou Giroud, na sexta-feira, tendo sublinhado, também, que não daria detalhes sobre a sua "inclinação política".

Pavard também rejeitou "julgar" preferências políticas, contudo, destacou a importância de participar na vida política: "Temos o direito de votar. Toda a gente devia votar, dos mais novos aos mais velhos."

FFF apoia apelo ao voto, mas quer "respeito à neutralidade"

Os próprios jogadores da seleção francesa vão votar, apesar de estarem na Alemanha a disputar o Europeu. A Federação Francesa de Futebol (FFF) montou um sistema de voto em mobilidade, explicou Dembélé, que admitiu que a atual situação política no país fez "soar sinais de alarme".

"Estava a ver as notícias há pouco tempo e vi que uma em cada duas pessoas em França não vota, por isso todos têm de votar nas eleições legislativas", vincou o avançado do Paris Saint-Germain, na quinta-feira.

No sábado, a FFF decidiu intervir. Em comunicado, frisou que "apoia o necessário apelo ao voto, um requerimento democrático", porém, também pediu que "a sua neutralidade como instituição, e a da seleção nacional por que é responsável, seja compreendida e respeitada por todos".

"Portanto, é apropriado evitar qualquer forma de pressão e uso político da seleção francesa", pode ler-se no site oficial da FFF, que, ainda assim, salienta que permite que os jogadores "se expressem livremente, de acordo com as suas próprias convicções e sensibilidades".

Marcus Thuram. Filho de ativista sabe nadar


Nesse mesmo sábado, Marcus Thuram tomou uma posição mais vincada: "Temos de lutar todos os dias para que isto [vitória da extrema-direita] não volte a acontecer e para que a RN não passe."

Ao contrário de Giroud, Pavard e Dembélé, que, nos dias anteriores, não tinham tomado um partido político claro, o avançado do Inter de Milão foi claro no seu posicionamento contra a extrema-direita.

"Mensagens são passadas todos os dias para ajudar a RN a vencer, mas temos de votar. Na seleção francesa, todos os jogadores, espero, partilham a mesma opinião que eu. Não duvido. Entendo que alguns jogadores tenham vindo apelar ao voto, mas para mim isso não é suficiente. Temos de explicar às pessoas como chegámos aqui e a seriedade da situação", sublinhou Thuram, que recordou também que a vitória da RN nas Europeias deixou "todos um pouco chocados, no balneário".

O caso de Thuram é diferente, não fosse o seu pai o antigo internacional francês Lilian Thuram, que foi campeão do mundo em 1998 e da Europa em 2000, passou por Mónaco, Parma, Juventus e Barcelona, e que no pós-futebol se tornou um rosto da luta contra o racismo.

O ex-futebolista, de 52 anos, tem uma organização chamada "Fundação Lilian Thuram - Educação contra o Racismo" e vários livros escritos sobre o tema. É uma inspiração para o filho, assumiu o próprio Marcus, quando questionado se falar de política era uma iniciativa coletiva.

"Cada um faz aquilo que sente que deve fazer. Alguns são mais modestos. Eu estou aqui porque, graças ao meu pai, tenho as armas para falar sobre este assunto. Não penso que seja muito complicado explicar-me sobre isto. Vem da minha personalidade e da forma como fui criado. Sei que muitas pessoas me seguem nas redes sociais e sinto-me obrigado a passar uma mensagem", declarou o avançado.

"Espero continuar orgulhoso de vestir esta camisola"


E eis que, no dia seguinte, Kylian Mbappé também tomou posição.

O capitão e estrela maior da seleção francesa sublinhou que a França se encontra "num momento crucial" da sua história, pelo que "há que saber distinguir as coisas e ter noção das prioridades": "O Euro ocupa um lugar muito importante nas nossas carreiras, mas creio que antes de tudo somos cidadãos e não devemos estar desligados do mundo que nos rodeia, menos ainda quando se trata do nosso país."

"Estamos numa situação nunca vista no nosso país. Por isso, quero dirigir-me a todos os franceses e especialmente à geração mais jovem. Creio que somos uma geração que pode marcar a diferença. Hoje podemos ver muito claramente que os extremos estão à porta do poder e temos a oportunidade de eleger o futuro do nosso país. Por isso, faço um apelo a todos os jovens para que vão votar e para que tomem realmente consciência da importância da situação", apelou, no domingo.

Mbappé tem noção do que significa em França e espera que a sua voz "tenha o maior peso possível". Embora não tenha referido, de forma explícita, a RN, realçou que espera continuar "identificado com o país".

"Precisamos de nos identificar com os nossos valores, que são valores diversidade, tolerância, respeito. Isso é inegável. Tenho confiança em todos os franceses. Sei que há bastantes jovens que dizem: 'Sim, mas um novo não vai mudar nada'. Pelo contrário, cada voto conta e não se pode ignorar. Espero de verdade que façamos a eleição correta e espero que continuemos orgulhosos de vestir esta camisola no dia 7", concluiu.

O povo francês acude às urnas no dia 30 de junho, para a primeira volta das legislativas, e a 7 de julho, para a segunda. Já a seleção entra em campo, no Euro 2024, esta segunda-feira, às 20h00, diante da Áustria.

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