25 jun, 2024 - 09:20 • Francisco Sousa
Este Europeu atreve-se a ficar para a história como um dos mais emocionantes de sempre e são jogos como o Croácia-Itália que lhe conferem esse toque especial. Luciano Spalletti atreveu-se a lançar um trio de centrais (Darmian juntou-se ao duo das primeiras jornadas, Bastoni-Calafiori), lançando três médios (Jorginho na base e dois interiores de alta rotação, Barella e Pellegrini) e dois avançados complementares (o refinado Raspadori, capaz de jogar entrelinhas e o robusto e dinâmico Retegui). Do outro lado, Zlatko Dalić respondeu com a titularidade de Sučić, partindo da direita mas integrando constantemente o jogo no corredor central e de Mario Pašalić, que ia alternando no posicionamento com a referência de ataque, Kramarić. A linha intermediária croata era a mesma de sempre.
A verdade é que a proposta inicial dos italianos foi conservadora no 'modus operandi', talvez a pensar em como o empate bastava e deixando que a Croácia assumisse a iniciativa, com protagonismo para Modrić ou Sučić (autor da primeira oportunidade, num remate de pé canhoto para grande defesa de Donnarumma) e com um Kovačić sempre bem posicionado para recuperar ao meio e dar sequência no passe. A dinâmica entre Pašalić e Kramarić foi também uma novidade interessante, até porque o médio da Atalanta aproxima bem à área e possui capacidade de remate. Gvardiol também assumiu alguns avanços, entre lado esquerdo e corredor central, mas a segurança defensiva da Squadra Azzurra criou impacto (outra vez com Bastoni a impor-se como líder, no posicionamento, duelos e saída de bola desde trás). À frente, viu-se alguma capacidade de resposta, mais por via de cruzamentos (Calafiori a investir em subidas pela esquerda, Bastoni sempre pronto a corresponder de cabeça a situações de bola parada), do que propriamente por uma sequência de jogo muito firme em ataque posicional.
Para a 2ª parte, ambos os treinadores mexeram em peças distintas, com Dalić a apostar no poder de fogo e capacidade física de Budimir e o selecionador italiano a pretender mais rutura entre os médios, com a entrada de Frattesi. Os croatas estiveram melhores no arranque dos segundos 45 minutos, e de uma combinação entre Stanišić e Brozović (mais ativo a soltar-se para os três quartos do campo) e consequente remate de Kramarić contra o braço de Frattesi, nasceu um penálti. Modrić permitiu a defesa ao suspeito do costume, mas depois de a bola sobrar para o ataque croata, o pé canhoto de Sučić serviu numa bandeja de ouro uma situação de 2x2 na área transalpina. Budimir superiorizou-se a Darmian, permitiu defesa incrível (mais uma) a Donnarumma e Modrić marcou um golo épico na recarga.
Euro 2024
Zaccagni é o novo herói nacional em Itália.
Entretanto, Spalletti alterou a estrutura, com a troca do lateral/ala Dimarco pelo homem de fantasia, Chiesa, e o jogo mudou, com a Itália atrevida e a Croácia encolhida. O jogo entrou num período de indefinição, mas a verdade é que as substituições mais felizes pertenceram ao treinador italiano. Zaccagni faturou nos últimos segundos do tempo de compensação, depois de uma arrancada demoníaca de Calafiori em condução (combinou com Frattesi) e com os homens que fechavam a lateral-direita balcânica a serem atraídos escusadamente para dentro. O homem da Lazio aproveitou o à vontade, digno de Del Piero na meia-final de Dortmund em 2006 para carimbar um espetacular jogo com a Suíça para sábado.
Honra ao excelente torneio da Albânia, num grupo hiper-exigente, mas mesmo ante uma equipa recheada de suplentes da Espanha, era difícil fazer melhor. Partindo de estruturas táticas semelhantes (4-2-3-1), as duas equipas tiveram entradas distintas em jogo: mais autoritária a Roja, que aproveitou um salto na pressão de Asllani no 4-4-2 a defender para expor a equipa de Sylvinho. Laporte iniciou o ataque com um passe preciso para a meia-direita, onde Dani Olmo aproveitou a ausência do médio do Inter para ganhar espaço e enquadrar uma grande bola para a desmarcação de Ferrán Torres, que rasgou nas costas de Mitaj e fez o único golo do encontro.
Euro 2024
Grimaldo estreou-se e Albânia vai para casa.
A Espanha teve ascendente na posse, guiado por Zubimendi, Merino e pelo criativo Olmo e soube utilizar a largura do campo para apostar em combinações e cruzamentos perigosos. O despertador albanês tocou já na segunda parte, período em que os espanhóis baixaram o ritmo e permitiram o crescimento adversário. Asllani ganhou relevância na construção, arriscou no remate e as entradas de Hoxha (agitador pouco preciso) e Broja (bem a procurar a baliza) deram outra aproximação à frente. Raya deu boa resposta entre os postes e a Espanha lá controlou a vantagem até final - sem inspiração ofensiva, 'brincadeiras' de Lamine Yamal à parte. Percebe-se que o onze-base de De la Fuente é melhor que uma equipa alternativa, mas também sabemos que há aqui plantel para acreditar no sonho…
Duas das figuras italianas neste torneio. O central somou mais uma atuação especial, com o ponto alto do golo do empate, mas teve várias outras subidas astutas com bola, revelando capacidade para ajudar a desmontar blocos através da condução e dirigindo muito bem o passe. Além disso, mostra evolução no posicionamento e abordagem defensiva. Já Gigi foi gigantesco na baliza, à imagem de outros jogos (defesa salvadora com a Albânia ou intervenções brutais a impedir a Espanha de ganhar vantagem mais cedo).
Não és tu, Luka. É a tua tristeza pós-jogo, em contraste com as lágrimas de felicidade de quem viu os Deuses do futebol darem-lhe uma segunda oportunidade ao marcar um golo 30 segundos depois de falhar um penálti. Ainda há chances remotas de apuramento, mas o semblante do craque assume a dificuldade do que aí vem…