25 jun, 2024 - 11:45 • Hugo Tavares da Silva
Não sei se haverá melhor maneira de começar o dia do que ver a Dinamarca dos anos 80. Se sofre de um caso agudo de desamor com o futebol, é o remédio santo. Era a febre delirante da técnica, da correria, do toque, do calcanhar, do movimento, do caos e, no fundo, do futebol que aproxima as pessoas dos artistas.
A desculpa para ver o que faziam Michael Laudrup, enfiado numa farda impecável com o ‘14’, e Preben Eljkaer Larsen e companhia foi perfeita: esta noite joga-se o Dinamarca-Sérvia. Naquele Euro 1984, os dinamarqueses passaram por cima dos jugoslavos. Foi um 5-0 avassalador, mas que até devia ter ficado 10-5, sabe-se lá. Foi um alucínio coletivo.
O escritor Miguel Lourenço Pereira resumiu a coisa assim: “Foi um dos jogos mais importantes de Europeus. Essa geração da Dinamarca exprimia o melhor que o futebol teve nos anos 80. Era extremamente atrativo, ofensivo, técnico e vistoso, bastante líquido na troca de posições”. Esta noite voltam a encontrar-se as seleções que trocaram de lugar no famoso Euro 1992 por causa da guerra nos Balcãs.
Na segunda-feira o futebol continuou, conta o Francisco Sousa. A Itália, mui italiana, salvou-se nos derradeiros segundos, depois de uma correria de Calafiori e um golaço de Zaccagni. O mago Modric assinou um recorde, sabia? No outro jogo, a Espanha venceu a Albânia. E há mais seleções apuradas.
Esta noite também há um Inglaterra-Eslovénia, que, à boleia das críticas a Harry Kane e companhia, nos levou a lembrar aqueles tempos em que Shearer ficou 21 meses sem marcar pela seleção. No nosso burgo, a FPF está mais rica, Diogo Costa deu conta da intenção portuguesa e já se conhece o árbitro para Portugal-Geórgia.
Albânia 0-1 Espanha. Esta gente não está para brincadeiras: somou três vitórias e não sofreu qualquer golo na fase de grupos. Ferrán Torres marcou cedo contra os albaneses e o marcador nunca mais bailou. O selecionador Luis de la Fuente trocou os 11 jogadores. Jesús Navas foi o capitão e Grimaldo jogou na esquerda.
Croácia 1-1 Itália. Houve o desespero que não sabemos descolar dos italianos. Luka Modric, depois de falhar um penálti, marcou um golo e tornou-se no mais velho de sempre a marcar em fases finais de Europeus. Riccardo Calafiori, já muito depois da hora, correu pelo miolo do campo e tocou para a esquerda. Aí apareceu Mattia Zaccagni a bater na bola à Henry e ela voou até à baliza de Livakovic, livrando a Itália do terceiro lugar do Grupo B.
A defesa de Donnarumma foi gigante. Mas Luka Modric, com os seus frescos 38 anos, reagiu mais rápido do que toda a gente, bateu a bola para cima, ela entrou, obediente, e ele celebrou como um miúdo. Suspeitava que estava a lançar a Croácia para os oitavos de final do Europeu. Correu, delirante, caiu e riu. Há tanto amor ao jogo debaixo daquela pele.
“Não podes tirar o teu capitão e o principal marcador de golos”, escreveu Alan Shearer no “The Athletic”, na sequência das críticas a Harry Kane e debate sobre titularidade. Faz lembrar o que ele viveu em 1996.
Foi um pouco à antiga. Luka Modric entrou na sala de imprensa, quem sabe depois da ‘last dance’, e foi aplaudido. Depois, um jornalista italiano pediu o microfone e substituiu a pergunta por elogio. Modric agradeceu e jurou que queria jogar para sempre.
França-Polónia às 17h00, em Dortmund
Países Baixos-Áustria às 17h00, em Berlim
Dinamarca-Sérvia às 20h00, em Munique
Inglaterra-Eslovénia às 20h00, em Colónia