09 fev, 2024 - 12:45 • Pedro Castro Alves , Hugo Tavares da Silva
“Ó, Pedro, Deus queira que seja um bom presságio”, confessou José Peseiro, em entrevista a Bola Branca, quando foi lembrado que Nelo Vingada e Fernando Santos, os únicos portugueses vencedores de torneios continentais por seleções, ganharam as finais às equipas da casa. A Nigéria joga a final do Campeonato das Nações Africanas, no domingo, contra a anfitriã Costa do Marfim.
“Não sabia disso”, admite, em relação à história de Santos com Portugal, em 2016, e Vingada com a Arábia Saudita, na Taça Asiática, em 1996. “Que seja o mesmo, que consiga vencer, que essa felicidade venha. Mas o mais importante é o que vamos fazer em campo, o descanso, o comprometimento, a recuperação, a alimentação. É uma competição muito stressante, há muita pressão de ordem política e social. É impressionante como vivemos isto, como os media da Nigéria vivem isto. Há uma pressão exagerada.”
José Peseiro, de 63 anos, procura lamber as feridas de uma carreira no futebol profissional que nem sempre foi gentil com ele. O rótulo de “pé frio” é-lhe até colado com alguma malícia. Aquele 2004 foi trágico para ele e para os que se esquecem de dar valor a quem chega ao momento das decisões. Também em tempos idos Telê Santana foi chamado assim e depois foi o que foi. Quem sabe esteja no CAN o canto do cisne deste homem que treinou, como adjunto, Figo, Zidane, Beckham, Ronaldo e companhia no Real Madrid de Queiroz.
Mas, claro, o futebol tentou dar-lhe a volta nos entretantos. Em novembro, um membro da federação nigeriana admitiu publicamente que, se houvesse dinheiro, Peseiro teria sido despedido. O homem resistiu a todas as armadilhas. A todas, mesmo: na semifinal, contra a África do Sul, viu o 2-0 ser-lhe anulado e a seguir, perto do apito final, os sul-africanos empatarem de penálti.
Segue-se a final. “Quando assinei o contrato, fi-lo com o objetivo de vencer o AFCON [Campeonato das Nações Africanas]. Foi isso que me trouxe aqui, o projeto desportivo, mais do que financeiro”, esclarece à Renascença. “Percebi que tinha equipa e jogadores, ia apostar tudo neste projeto. Não era fácil pensar assim há dois anos, há muitas seleções com qualidade, estão à frente da Nigéria no ranking. As coisas têm corrido bem.”
O adversário na final é o anfitrião, a Costa do Marfim, que também teve uma vida soluçada. Na fase de grupos, o treinador foi despedido depois do terceiro jogo, quando até havia possibilidades de se classificarem para a fase a eliminar. E foi sso mesmo que aconteceu, graças a eventos alheios. Antes do torneio começar, Peseiro colocava Costa do Marfim como favorita ao lado de Marrocos e Senegal.
“Eles estiveram lá em baixo, praticamente eliminados. Nos oitavos e quartos de final, estiveram pendurados mais uma vez, estiveram a perder, acabaram por dar a volta”, conta. “É positivo para eles, já tiveram muitas expectativas, que são muito pressionantes e estressantes. Estão a crescer. É um bom adversário, com bons jogadores e boa ideia de jogo. Não mudaram substancialmente [com o novo treinador].”
Na fase de grupos, a Nigéria bateu a Costa do Marfim, com um golo de Troost-Ekong, e deu para sentir o filme que é jogador contra a seleção da casa. “Chegámos ao estádio a 35 minutos de começar o jogo”, revela, informando que costumam chegar ao recinto com 1h30 de antecedência. O trânsito, as estradas fechadas e a polícia que nada controlava ditaram esse desfecho.
“Foi praticamente equipar, cinco ou seis minutos, ir para dentro e começar o jogo”, recorda a Bola Branca. “O ambiente é extraordinário no estádio, na rua e nos cafés. Vês tanta gente a ver o jogo, devem querer ver em grupo. Lembro-me dos meus tempos de jovem, íamos onde havia televisão ou televisão a cores. Juntam-se e é uma loucura de gente por todo o lado. São loucos por futebol.”
A final entre Nigéria e Costa do Marfim joga-se no domingo, 11 de fevereiro, a partir das 20h de Lisboa. O jogo em que Peseiro tenta imitar Fernando Santos e Nelo Vingada vai ter lugar no Stade Olympique Alassane Ouattara d'Ebimpé, em Abidjan.