12 fev, 2024 - 08:20 • Hugo Tavares da Silva
É talvez o alemão menos alemão alguma vez visto (pelo menos de acordo com os nossos preconceitos todos). Riso fácil, malandrice, dançarino, ginga – mais sem bola do que com bola, é certo – e com queda para o futebol. No final do Bayer Leverkusen-Bayern Munique, o mais interessante clássico na Bundesliga nos dias que correm, o rosto de Thomas Müller era outro.
A equipa de Xabi Alonso acabava de bater os rapazes da Baviera, crónicos campeões nacionais, por 3-0, sovando para o chão o queixo das testemunhas pelo mundo fora. O Bayer é o único clube invicto nas grandes ligas europeias. Os de Leverkusen levam agora cinco pontos de vantagem, colocando-se assim na pole position para interromper a série de 11 títulos seguidos do rival. E Müller, que sabia estes dados de cor, destratou a forma como a equipa jogou.
“Há sintomas que vemos em campo, por isso podem ver que estou chateado”, disse o internacional germânico na flash interview, ainda no relvado. “O Bayer mereceu vencer. O que me irrita é que a nossa equipa mostra uma melhor abordagem no treino, quando somos corajosos e estamos sem amarras. É aqui que sinto que falta coragem.”
E continuou, num tom embrutecido: “Eu sinto falta disso na minha equipa. Jogamos de A para B, de B para C e ninguém tem a liberdade de arriscar”. A crítica parecia atingir o treinador, Thomas Tuchel, na alma, mas mais à frente acabou por ilibar o técnico. Ainda assim, numa altura em que o debate entre futebol posicional vs. futebol relacional brota por tantas cafés internéticos, vale a pena ler a reflexão do futebolista de 34 anos.
“No Bayer, nem todos os movimentos estão planeados. O Grimaldo aparece pela direita, mesmo que ele seja lateral-esquerdo. Eles simplesmente são criativos, jogam futebol e procuram soluções. Nós também fazemos isso, mas não nos jogos, quando a pressão aparece. E é isso que espero do Bayern e desta equipa”, explicou.
Müller, no fundo, reconheceu que ele e os seus companheiros não compareceram no relvado de Leverkusen. “Só temos que focar [a questão] nos jogadores. Havia em campo jogadores de nível internacional suficientes. Não há necessidade de falar do treinador…”
O basco Xabi Alonso vai afirmando-se como o pedaço de treinador mais apetecível para 2024/25 e, a 13 jornadas do fim da Bundesliga, ameaça seriamente interromper a trajetória gloriosa do clube que há pouco tempo perdeu a maior lenda, Franz Beckenbauer.