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Francisco e o desporto: "O mais importante não é ganhar ou perder, é evoluir"

21 abr, 2025 - 12:40 • Luís Aresta

O Papa, que morreu esta segunda-feira aos 88 anos, tinha uma ligação íntima ao desporto e ao futebol e até avaliou os caráteres de Maradona, Messi e Pelé.

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Inspirado pelo pai, que era praticante de basquetebol, Jorge Mario Bergoglio cresceu como adepto do San Lorenzo de Almagro, um dos maiores clubes da Argentina. Aos 10 anos de idade, em 1946, juntamente com o pai e irmãos, assistiu no estádio – o Viejo Gasómetro – à conquista pelo San Lorenzo do título de campeão nacional.

Em 1961, quando já integrava a ordem dos jesuítas, recebeu a notícia de que o pai tinha falecido em pleno estádio, na sequência de um ataque cardíaco.

Mais tarde, como arcebispo de Buenos Aires, viria a abençoar o projeto da Capela da Cidade Desportiva do San Lorenzo. Coincidência ou não, a eleição como Papa do Cardeal Bergoglio, em 2013, acontece pouco antes do maior momento da história do clube, a conquista da Taça Libertadores.

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Uns meses antes, Francisco tinha passado por Portugal e por Ourém, por ocasião das Jornadas Marianas em Fátima. Nessa altura, e na sua presença, o estádio municipal de Fátima recebeu o nome de Estádio Papa Francisco.

Durante o pontificado, Francisco recebeu no Vaticano milhares de atletas, desportistas com deficiência e representantes de vários clubes e seleções. Encontrou-se com Diego Armando Maradona e Lionel Messi, as duas maiores estrelas do futebol argentino.

Quando, em 2023, o rival de Cristiano Ronaldo foi distinguido com a oitava bola de ouro, um jornalista pediu a Francisco que escolhesse entre Maradona e Messi. O Papa surpreendeu.

“Eu juntaria um terceiro, Pelé”, surpreendeu. “São os três que acompanhei. Maradona, como jogador, é um grande, mas, como homem, fracassou. O pobre homem resvalou na corte dos que o rodeavam e não o ajudavam. Veio ver-me no primeiro ano de pontificado e, pouco depois, o pobre teve o seu final.”

E continuou a reflexão: “É curioso como tantos desportistas acabam mal. Messi é corretíssimo, é um senhor. Messi é corretíssimo, é um senhor. Mas, para mim, destes três, o grande senhor é o Pelé, um homem de um coração… Falei com o Pelé num avião quando íamos para Buenos Aires. É um homem de uma humanidade enorme”.

Entre a vasta coleção de camisolas de Francisco está uma de Cristiano Ronaldo, que lhe foi entregue pela mãe do jogador, e outra assinada pelos argentinos Nicolás Otamendi e Enzo Fernández, oferecida por um sócio do Benfica. O roupeiro futeboleiro de Bergoglio contava ainda uma terceira camisola do nosso país, a do Vitória Sport Club, de Guimarães, entregue por um pároco e ex-dirigente do clube.

As ligações de Francisco ao futebol são inúmeras. Quando começou a ser visto de cadeira de rodas e com canadianas, o Vaticano recorreu a um especialista do departamento clínico do Atlético de Madrid para ajudar a resolver uma lesão no joelho. Estávamos em 2022, ano em que a Argentina se sagrou campeã do mundo no Catar.

Antes da final, Francisco tinha pedido ao vencedor para celebrar com humildade e a quem perdesse para aceitar a derrota e aproveitar o momento. “O mais importante não é ganhar ou perder, é evoluir”, declarou na altura o Papa. Mais tarde foi visto em público com a camisola da Argentina.

Diz-se que ouviu pela rádio o relato da final entre franceses e argentinos, porque desde 1990 que prometeu cortar com a televisão por considerar que não lhe fazia bem à saúde. Nesse ano, a Argentina tinha perdido a final do Mundial com a Alemanha.

O Futebol e o desporto sempre foram vistos pelo Papa Francisco como uma ferramenta evangelizadora.

Quando há alguns anos o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, publicou o documento “Dar o Melhor de Si Mesmo” como forma de realçar o papel da igreja no mundo do desporto, Francisco emitiu uma nota em que destacava a prática desportiva enquanto lugar de encontro, veículo de formação, fonte de valores e virtudes que nos ajudam a melhorar como pessoas.

Segundo Francisco, quando um pai joga com um filho, quando as crianças jogam entre si, quando o desportista festeja uma vitória com os adeptos, em todos esses momentos se pode encontrar o desporto como lugar de união e encontro entre pessoas.

Para o desportista cristão, escreveu o Papa, “a santidade é viver o desporto como meio de encontro, de formação da personalidade, de testemunho e de anúncio da alegria de ser cristão com os que o rodeiam”.

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