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Guerra Colonial

Pai de Bruma “era dono de uma coragem que raiava a loucura”, relata livro sobre a guerra colonial

20 jan, 2025 - 15:15 • Lusa

“Manecas Santos, uma biografia” foi escrito por uma sobrinha do ex-guerrilheiro guineense Manuel dos Santos, a partir de relatos captados em várias entrevistas.

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O ex-guerrilheiro guineense Manuel dos Santos “Manecas” relata no seu livro, recentemente publicado em Bissau, o que considera de “coragem a roçar a loucura” do pai do jogador de futebol Bruma durante a guerra colonial nas matas da Guiné.

O pai de Bruma chamava-se Tué Na Bagna e era líder de um comando que normalmente deveria comportar o máximo de 50 soldados, mas que “tinha muito mais jovens Balantas”, que seguiam o chefe pela sua “fama de temível guerrilheiro”, relata Manecas dos Santos.

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“Tué era, de facto, dono de uma coragem que raiava a loucura”, refere o ex-guerrilheiro, de 83 anos, no seu livro “Manecas Santos, uma biografia”, escrito por uma sobrinha a partir de relatos captados em várias entrevistas.

Os jovens Balantas, um dos principais grupos étnicos da Guiné-Bissau, ofereciam-se para se juntar ao comando de Tué Na Bagna, “atraídos pela sua fama” e assim, conta Manecas dos Santos, “partilhar a glória”.

O ex-guerrilheiro lembra um episódio da guerra que envolveu o general António de Spínola, na altura, 1968, governador militar da Guiné, e Nino Vieira, comandante das operações da guerrilha independentista no sul da Guiné e Tué Na Bagna.

Spínola tinha mandado instalar a tropa colonial na zona de Balana, localidade estratégica para os dois exércitos em guerra no sul da Guiné, Tué simplesmente avisou ‘Nino’ Vieira que enquanto os soldados portugueses lá estivessem todos os dias ia haver emboscadas e ataques ao quartel local por parte dos seus homens.

E assim foi, relata Manecas dos Santos, lembrando que passados alguns dias e como consequência das flagelações dos comandados por Tué, Spínola simplesmente abandona Balana e o seu quartel.

“Ironicamente, um dos filhos do Tué (Bruma) jogaria na seleção portuguesa de futebol”, sublinha Manecas dos Santos.

Tué tomou aquela decisão sem sequer se preocupar com o que pensava ‘Nino’ Vieira, que era o seu chefe direto, destaca Manecas dos Santos.

Com a Guiné independente, Tué Na Bagna, entretanto já falecido, faria parte de uma lista de mais de 50 ex-guerrilheiros da etnia Balanta acusados de envolvimento no chamado ‘caso 17 de outubro’, uma alegada tentativa de golpe de Estado para derrubar o Presidente ‘Nino’ Vieira.

O caso ocorreu em 1985 e teria como desfecho, um ano depois, o fuzilamento de seis dos implicados no alegado golpe, mesmo com apelos de clemência do então Presidente português, Mário Soares, e do Papa João Paulo II.

Entre os fuzilados, destacam-se Paulo Correia, à época primeiro vice-presidente do Conselho de Estado, e Viriato Pã, Procurador-Geral da República.

O pai de Bruma e outros condenados passaram mais de dez anos numa ilha isolada do arquipélago dos Bijagós, até serem restituídos à liberdade no início dos anos de 1990 com a abertura política do país ao multipartidarismo.

Bruma, atualmente a representar o Sporting de Braga, nasceu em outubro de 1994.

Assinalam-se hoje 52 anos da morte de Amílcar Cabral, líder das lutas de libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, em Conacri.

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