05 ago, 2024 - 13:45 • Rui Viegas
Entre uma mensagem no Facebook e a glória na ‘Arena Paris La Defénse’, o local do torneio olímpico de natação de 2024, passaram dois anos que alteraram completamente a vida, pessoal e profissional, de Nuno Pina. O fisioterapeuta e preparador físico de Almofala, Caldas da Rainha, é hoje um dos rostos por trás do fenómeno que a piscina francesa deu a conhecer. Com isso, ele próprio veio à tona no maior palco mediático do desporto mundial.
Pina integra a equipa olímpica chinesa de natação, através do comité e da federação locais, a cujos quadros está ligado. E, em Paris, o novo campeão olímpico em 100 metros livres (mais recorde olímpico) e em 4×100m estilos, Pan Zhanle, de 19 anos, é um dos meninos do seu aquário.
“Estou mais debruçado sobre um grupo de atletas, uma rapariga e quatro rapazes, e realmente entre eles está o Pan. Um atleta que se situa, de facto, mais acima no radar internacional. É um craque”, admite, depois de o jovem nadador ter deixado o mundo de boca aberta.
Primeiro ao estabelecer um novo recorde mundial nos 100 metros livres (a sua especialidade), quando retirou 40 centésimos à melhor marca de sempre... que já lhe pertencia.
Cerca de 45 mil voluntários participam na organiza(...)
E a seguir, na derradeira jornada da natação, ao ser protagonista de uma espetacular recuperação no último percurso das estafetas em 4x100 metros, que ajudou (e muito) a China a bater pela primeira vez os Estados Unidos, e a França de León Marchand, nesta disciplina. E assim arrebatou um novo ouro para a missão olímpica do maior país da ásia oriental.
“Ele conseguiu um feito incrível, que me deixa orgulhoso”, confessa Pina.
Mas, puxando o filme atrás, como se iniciou esta relação? Foi o que procuramos saber, na conversa com o recuperador luso.
“Tudo começou com um alerta de um ex-estagiário meu, no Facebook, para uma proposta de trabalho na China. Seguiram-se contactos e entrevistas até me dizerem que fiquei com o lugar”, adianta o técnico, com satisfação ao recordá-lo, explicando nestas declarações à Renascença no que consistem atualmente as suas funções.
Os dourados portugueses
Numa série de cinco textos com os portugueses que (...)
“Eles não têm a típica fisioterapia e procuram utilizar o nosso conhecimento europeu para complementar as suas próprias técnicas”, explica. “Acabamos por dar o nosso cunho. Esse é o meu trabalho: ajudar. E também educar e formar os técnicos chineses, quer na área da preparação física, quer na área da recuperação das lesões. No dia a dia são estas as minhas tarefas”, revela, acrescentando que vive “em permanência com os atletas num centro de alto rendimento em Pequim”.
Na aldeia, em português… nos revemos
Nuno Pina já passou pelos Mundiais de natação do Japão e do Qatar e vestiu ainda a camisola chinesa nos Jogos Asiáticos. Todavia, é na cidade luz que o brilho do seu trabalho ganhou outra intensidade ou não estivéssemos na maior competição desportiva do planeta.
Na aldeia olímpica de Saint-Denis, por estes dias, Nuno Pina tem-se cruzado com velhos amigos da delegação lusa. “Tenho amigos em várias modalidades, mas, claro, existem mais ligações à natação, já que a representei. Ainda hoje passei por alguns quando circulava de bicicleta…”, di-lo a sorrir, fazendo notar de imediato que esta é uma experiência que tem valido a pena.
“Não é assim tão comum termos portugueses, ou outros estrangeiros, na China. De facto, somos poucos lá. Mas é uma experiência fantástica. A cultura chinesa é tão diferente para nós que acaba por enriquecer essa mesma experiência. Nem tudo são rosas, é verdade, mas o balanço é muito positivo”, termina o ‘fisio’ e preparador que ajudou Pan (e outros) a fazer história em Paris. Mas também ele já a fez, na sombra da piscina e em português.